domingo, março 18, 2012

O fascínio dos designers - ETHEVALDO SIQUEIRA

O ESTADÃO - 18/03/12
Outro dia, conheci um dos gênios do design da Apple, Tony Fadell, o
criador do iPod. Depois de ouvi-lo, compreendi as verdadeiras razões
por que a Apple conquistou o status de empresa mais criativa do mundo,
reconhecido até por seus concorrentes. Seu depoimento me reforçou a
convicção de que essa empresa talvez seja, no futuro, mais brilhante e
alcance ainda maior sucesso - com base no maior legado de Steve Jobs,
que foi, em minha opinião, a formação de uma extraordinária equipe de
criadores dotados de sólida cultura de design.
Tony Fadell tem hoje sua própria empresa, a Nest. Mas continua dando
lições de criatividade, sem esquecer o papel de Steve Jobs em seu
trabalho e a inspiração que dele recebeu. A maior parte dos designers
da Apple, entre os quais, Fadell, aprendeu a materializar aquilo que a
imaginação do líder lhes pedia.

Em sua palestra em fevereiro, no evento Solid Works 2012, em San
Diego, Tony Fadell resumiu suas diretrizes de vida como designer,
lembrando, entre tantas coisas, que, "para se criar um produto
revolucionário, o projetista tem que atender a dois pontos essenciais:
funcionalidade e design. E tudo tem que ser feito com a alma e o
coração".

Um super botão. A empresa de Tony Fadell cria soluções para a casa
digital. Vale lembrar que o próprio nome da empresa, Nest, tem muito a
ver com casa ou moradia, porque, em inglês, significa ninho. Tony fala
com um entusiasmo juvenil sobre o primeiro produto que sua empresa
está lançando: o Nest Learning Thermostat, um controle de ar
condicionado. Ou melhor: um termostato inteligente que faz mil coisas
e as memoriza para sempre.

Com esse botão mágico, o usuário não gasta eletricidade quando está
fora de casa ou de um cômodo. O termostato inteligente indica a melhor
temperatura para economizar energia quando não há ninguém em casa.
Poupa esforço dos moradores em levantar dez vezes só para programar a
temperatura ideal. O sistema pode desligar ou religar rigorosamente na
hora programada. É o controle de funções mais inteligente e mais
amigável que eu já vi.

A revista americana Wired apelidou o controle de funções criado pela
Nest de "iPhone dos termostatos".

O produto só foi lançado nos Estados Unidos. Suponho até que dele
surgirão novos aparelhos, como um controle geral da casa digital,
baseado em um único botão, que poderá ser programado para fazer mil
coisas. Ele obedecerá com precisão matemática.

Jornalista isento. É claro que o design mais avançado desperta a
paixão dos consumidores. A propósito, durante décadas, aprendi que
jornalista não pode comportar-se como fã de nenhum produto. Mas,
algumas vezes, confesso que, mesmo me esforçando, não consigo refrear
meu entusiasmo, como já ocorreu juntamente com uma plateia de usuários
e fãs ruidosos, nos auditórios de São Francisco ou Cupertino, durante
a cobertura de novos lançamentos da Apple. De repente, eu me
surpreendia aplaudindo e gritando ao ouvir a descrição de cada recurso
exclusivo ou característica dos novos produtos anunciados por Steve
Jobs.

Nunca me recriminei muito por isso, até porque sempre via dezenas de
jornalistas reagindo do mesmo modo, diante especialmente da capacidade
incomum de comunicação que Steve demonstrava a cada lançamento de
inovações geniais, como o iMac, o iPod, o iPhone, o iPad ou o Macbook
Air retirado de dentro de um envelope amarelo. Como qualquer mortal,
eu aplaudi tudo aquilo, sim,leitor. Mas só agora tenho a coragem de
confessá-lo.

Minha consciência ficou mais aliviada depois de conversar há duas
semanas com o jornalista Walter Isaacson, biógrafo de Steve Jobs,
quando ele participou do programa Roda Viva, da TV Cultura. Numa
conversa rápida, antes de entrar no estúdio, Isaacson fez uma
confissão que me tranquilizou: "Eu também nunca resisti ao entusiasmo
daqueles lançamentos. Aplaudi e gritei, pois sou usuário e fã ardoroso
dos produtos da Apple".

O mundo do design. Nos últimos anos, bem antes de ouvir Tony Fadell e
Walter Isaacson, eu já havia redescoberto a beleza do design ao
entrevistar dois outros gurus desse setor. Um deles foi o professor
Donald A. Norman, da Northwestern University e da Universidade da
Califórnia em San Diego, que também foi vice-presidente da Apple. O
outro foi Stefano Marzano, ex-executivo-chefe designer da Philips
holandesa, que acaba de assumir posição semelhante na Electrolux
sueca.

Pensadores e visionários do designer como o professor Norman mostram o
poder e as grandes tendências da criatividade industrial em todo o
mundo, entre as quais, a usabilidade - de que resultam os produtos
mais fascinantes para o usuário, chamados de user friendly. Essa
facilidade de uso, aliás, é a marca dominante dos produtos da Apple e
da dinamarquesa Bang & Olufsen, entre outras.

Sugiro a quem quiser aprofundar o tema a leitura de O Design do Futuro
(The Design of Future Things) e O Design do Dia a Dia, de Donald
Norman, lançados em português pela Editora Rocco.

Stefano Marzano e Emile Aarts são coautores de um livro
extraordinário, publicado pela 010 Publishers, de Roterdã, Holanda,
mas difícil de ser encontrado no Brasil. Seu título em inglês: The New
Everyday.

Facilidade de uso é a marca dominante dos produtos da Apple e da Bang & Olufsen