sexta-feira, março 09, 2012

À espera de uma fagulha - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 09/03/12



O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, esteve em Washington para conseguir apoio de Barack Obama no braço de ferro entre Israel e Irã, no momento em que o país persa parece próximo de fabricar armas nucleares. Obama afirmou que apoiará Israel contra Teerã, mas Jerusalém estima, e não sem razão, que o americano vacila e fará tudo para evitar uma ação de força contra o Irã. Aliás, por isso os israelenses vêm repetindo que, se os EUA relutarem, Israel "poderá empreender uma ação unilateral, bombardeando as instalações nucleares iranianas".

Israel, Irã e EUA não são os únicos atores do drama. Todo Oriente Médio está preocupado. Particularmente os Estados do Golfo que só estão separados do Irã (um país muçulmano xiita e persa, não árabe e sunita) pelo Golfo Pérsico. Além disso, também são grandes produtores de petróleo. Então, qual seria a posição das monarquias do Golfo diante de um eventual ataque ao Irã?

O mais próximo do Irã é o Catar, país minúsculo (240 mil habitantes), riquíssimo e muito exposto no caso de um confronto, pois abriga o Centcom, comando central americano. O Catar tornou-se um país muito ativo depois que passou a ser dirigido pelo xeque Hamad bin Khalifa al-Thani, que tem apenas 60 anos.

Claro que o Catar é um aliado dos americanos, mas na área diplomática ele mostra uma liberdade que beira a insolência: a capital, Doha, ofereceu um escritório de representação para o Taleban. E também trabalhou para um reencontro entre dois grupos palestinos rivais, o Fatah e o Hamas. E quanto ao Irã? Bem, o Catar opõe-se a uma ação militar contra as instalações nucleares iranianas, preferindo a via diplomática. É verdade que o país divide a exploração de um imenso campo de gás submarino com o Irã. Uma guerra seria um desastre e arruinaria a riqueza fabulosa do minúsculo território.

Por outro lado, a Arábia Saudita odeia o Irã. Em 2008, o rei Abdullah aconselhou os americanos a bombardearem o Irã, para "cortar a cabeça da serpente". Hoje, EUA e seu aliado saudita estão em atrito. Riad lamentou que os EUA destruíram o Iraque de Saddam Hussein. Claro que os sauditas não apreciavam Saddam, mas a ditadura no Iraque constituía uma muralha contra as ambições do Irã no Golfo Pérsico. E de fato, quando Saddam Hussein desapareceu, o Iraque ficou totalmente submisso ao Irã e passou a constituir um perigo mortífero para os Estados do Golfo.

O ódio da Arábia Saudita contra o Irã é profundo. Acrescente-se a isso o medo. Riad, guardião das cidades sagradas islâmicas de Meca e Medina, exerce a liderança sobre todo Islã sunita. Mas o Irã dos aiatolás, o Irã de Khomeini, pretende, pelo contrário, fomentar uma "revolução islâmica mundial" não sunita, mas xiita, não árabe, mas persa.

A Arábia Saudita convive com essa ameaça no espírito. Segundo o analista político Mehdi Mozzafari, "o regime iraniano é uma ameaça existencial. A destruição da monarquia saudita figura com todas as letras no testamento de Khomeini".

Todas essas análises deveriam, por lógica, colocar os sauditas no campo dos que querem atacar o Irã. Mas não. A Arábia Saudita, como o Catar, e também o Kuwait e Dubai (por mais diferentes que sejam suas diplomacias) trabalham contra uma radicalização da situação. A seus olhos, tal ação desencadeará o caos e poderá por fim à sua formidável prosperidade petrolífera.

O príncipe saudita Turki bin Faisal, o estrategista da família real, declarou-se hostil a um ataque preventivo contra o Irã, alegando que isso só fará o povo iraniano se unir em torno de um regime desacreditado". Por outro lado, a Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo defendem a imposição pelos países ocidentais de sanções cada vez mais severas contra o Irã. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO