O GLOBO - 25/03/12
Em 10 anos, de 1999 a 2009, os EUA tiveram perdas fortes de participação no mercado global de quase todos os setores industriais: -36% no mercado de veículos aeroespaciais e de defesa; -9% na tecnologia de informação; -8% em equipamento de telecomunicação; -3% no setor automotivo. A economia americana tem problemas de competitividade. O que dá a eles vantagem é o nível do debate.
A Harvard Business Review fez uma edição especial sobre o tema, conduzido pelo especialista em competitividade Michael Porter, o mais conhecido autor de livros, estudos e pesquisas sobre o tema. A primeira novidade é o avanço da definição do que é competitividade. Seria, segundo ele, a habilidade de as empresas competirem com sucesso na economia global, ao mesmo tempo em que criam as condições para um alto — e crescente — nível de vida para a média da população.
Não basta, portanto, ser capaz de vencer a competição, é preciso também garantir que os trabalhadores ganhem mais. Há um avanço em relação ao conceito dos anos 1990, época em que eram elogiadas as lean and mean: empresas magras e más. Segundo o texto da Harvard Business Review, a produtividade de um país não deve ser calculada com base na população empregada, mas na população empregável. O que significa que se os lucros das empresas subirem, mas aumentar o desemprego, ou se as exportações crescerem, mas com base na redução de salário, o país não está elevando sua competitividade de longo prazo.
“Salários baixos nos Estados Unidos não impulsionam a competitividade americana. Nem o dólar barato. Alguns passos que reduzem os custos de curto prazo das empresas podem na verdade trabalhar contra a verdadeira competitividade”, diz o texto de Porter, escrito com Jan Rivkin.
Algumas frases — como essa acima — parecem ter sido escritas para o mundo empresarial brasileiro. Há outra ainda mais eloquente, principalmente neste momento em que pela milionésima vez empresários vão a Brasília pedir ajuda ao governo, em que o cenário político do Congresso é de impasse e os estados esperam que soluções mágicas surjam em Brasília. “Para restaurar sua competitividade, os Estados Unidos precisam de uma estratégia de longo prazo. Isso vai exigir numerosas mudanças políticas por parte do governo, o que parece improvável com o impasse político de Washington. No entanto, muitos passos cruciais podem ser dados pelos estados e regiões onde estão muitos dos fatores-chave de competitividade. Mais importante, os líderes empresariais podem e devem ter um papel muito mais pró-ativo na transformação da competição e no investimento nas comunidades locais, em vez de serem vítimas passivas das políticas públicas ou reféns de acionistas equivocados.”
Por outro lado, explica Porter, criar mais emprego com medidas de proteção a setores que empregam muita mão de obra, sem aumentar a produtividade, também não resolve o problema. Isso não cria as condições de aumento sustentado do nível do emprego nem elevação do nível de vida da população. As medidas de estímulo do governo como as que o Brasil adota frequentemente conseguem apenas ser um alívio temporário, não são aumento de competitividade.
Segundo os especialistas de Harvard, as empresas durante anos reduziram o número de funcionários e transferiram para o exterior parte de sua produção. Como resultado, os salários ficaram estagnados, e a renda das famílias da classe média reduziu-se. Isso foi compensado com a oferta de crédito barato que deu às pessoas a sensação de riqueza. O excesso de oferta de crédito e a renda estagnada estão na raiz da crise de 2008.
Porter critica também o sistema de remuneração dos executivos baseado em participações acionárias. Isso teria levado os administradores a terem interesse apenas em decisões que elevem o lucro trimestral e desestimulou as estratégias empresariais de longo prazo.
Uma pesquisa feita por Harvard ouviu dez mil ex-alunos da escola de negócios da universidade sobre as perspectivas da economia americana: 71% registraram que estão prevendo um declínio da competitividade dos Estados Unidos nos próximos anos. Disseram também que o país perde duas em cada três disputas com outros países pela localização de um investimento.
Michael Porter acha que, na competitividade, não vale o jogo de que um país só ganha se o outro perder. O aumento do nível de vida da Índia pode fazer com que os indianos comprem mais produtos e serviços do Vale do Silício. A prosperidade americana — sustenta a revista — é do interesse dos outros países do mundo, até pela dimensão da economia dos EUA.
A lista do que fazer é parecida com a nossa: reduzir a complexidade tributária, melhorar a educação, aperfeiçoar o ambiente de negócios, investir na infraestrutura de transportes e telecomunicações. Mas no principal quesito os americanos continuam na frente: a inovação. Nesse ponto, a proposta para os Estados Unidos é apenas continuar sendo inovadores. Um especialista chinês Xu Xiaonian admite, numa coluna escrita na mesma edição, que o modelo chinês de copiar e imitar funcionou até agora, mas criou problemas de longo prazo.
Em 10 anos, de 1999 a 2009, os EUA tiveram perdas fortes de participação no mercado global de quase todos os setores industriais: -36% no mercado de veículos aeroespaciais e de defesa; -9% na tecnologia de informação; -8% em equipamento de telecomunicação; -3% no setor automotivo. A economia americana tem problemas de competitividade. O que dá a eles vantagem é o nível do debate.
A Harvard Business Review fez uma edição especial sobre o tema, conduzido pelo especialista em competitividade Michael Porter, o mais conhecido autor de livros, estudos e pesquisas sobre o tema. A primeira novidade é o avanço da definição do que é competitividade. Seria, segundo ele, a habilidade de as empresas competirem com sucesso na economia global, ao mesmo tempo em que criam as condições para um alto — e crescente — nível de vida para a média da população.
Não basta, portanto, ser capaz de vencer a competição, é preciso também garantir que os trabalhadores ganhem mais. Há um avanço em relação ao conceito dos anos 1990, época em que eram elogiadas as lean and mean: empresas magras e más. Segundo o texto da Harvard Business Review, a produtividade de um país não deve ser calculada com base na população empregada, mas na população empregável. O que significa que se os lucros das empresas subirem, mas aumentar o desemprego, ou se as exportações crescerem, mas com base na redução de salário, o país não está elevando sua competitividade de longo prazo.
“Salários baixos nos Estados Unidos não impulsionam a competitividade americana. Nem o dólar barato. Alguns passos que reduzem os custos de curto prazo das empresas podem na verdade trabalhar contra a verdadeira competitividade”, diz o texto de Porter, escrito com Jan Rivkin.
Algumas frases — como essa acima — parecem ter sido escritas para o mundo empresarial brasileiro. Há outra ainda mais eloquente, principalmente neste momento em que pela milionésima vez empresários vão a Brasília pedir ajuda ao governo, em que o cenário político do Congresso é de impasse e os estados esperam que soluções mágicas surjam em Brasília. “Para restaurar sua competitividade, os Estados Unidos precisam de uma estratégia de longo prazo. Isso vai exigir numerosas mudanças políticas por parte do governo, o que parece improvável com o impasse político de Washington. No entanto, muitos passos cruciais podem ser dados pelos estados e regiões onde estão muitos dos fatores-chave de competitividade. Mais importante, os líderes empresariais podem e devem ter um papel muito mais pró-ativo na transformação da competição e no investimento nas comunidades locais, em vez de serem vítimas passivas das políticas públicas ou reféns de acionistas equivocados.”
Por outro lado, explica Porter, criar mais emprego com medidas de proteção a setores que empregam muita mão de obra, sem aumentar a produtividade, também não resolve o problema. Isso não cria as condições de aumento sustentado do nível do emprego nem elevação do nível de vida da população. As medidas de estímulo do governo como as que o Brasil adota frequentemente conseguem apenas ser um alívio temporário, não são aumento de competitividade.
Segundo os especialistas de Harvard, as empresas durante anos reduziram o número de funcionários e transferiram para o exterior parte de sua produção. Como resultado, os salários ficaram estagnados, e a renda das famílias da classe média reduziu-se. Isso foi compensado com a oferta de crédito barato que deu às pessoas a sensação de riqueza. O excesso de oferta de crédito e a renda estagnada estão na raiz da crise de 2008.
Porter critica também o sistema de remuneração dos executivos baseado em participações acionárias. Isso teria levado os administradores a terem interesse apenas em decisões que elevem o lucro trimestral e desestimulou as estratégias empresariais de longo prazo.
Uma pesquisa feita por Harvard ouviu dez mil ex-alunos da escola de negócios da universidade sobre as perspectivas da economia americana: 71% registraram que estão prevendo um declínio da competitividade dos Estados Unidos nos próximos anos. Disseram também que o país perde duas em cada três disputas com outros países pela localização de um investimento.
Michael Porter acha que, na competitividade, não vale o jogo de que um país só ganha se o outro perder. O aumento do nível de vida da Índia pode fazer com que os indianos comprem mais produtos e serviços do Vale do Silício. A prosperidade americana — sustenta a revista — é do interesse dos outros países do mundo, até pela dimensão da economia dos EUA.
A lista do que fazer é parecida com a nossa: reduzir a complexidade tributária, melhorar a educação, aperfeiçoar o ambiente de negócios, investir na infraestrutura de transportes e telecomunicações. Mas no principal quesito os americanos continuam na frente: a inovação. Nesse ponto, a proposta para os Estados Unidos é apenas continuar sendo inovadores. Um especialista chinês Xu Xiaonian admite, numa coluna escrita na mesma edição, que o modelo chinês de copiar e imitar funcionou até agora, mas criou problemas de longo prazo.