As cotações do dólar já caíram 8,4% nas primeiras sete semanas de 2012 e a tendência de queda continua aí. Sexta-feira, o ministro Guido Mantega desmentiu informação da revista Veja de que o governo pretende taxar a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) que, no ano passado, atingiram o volume inédito de US$ 66,7 bilhões – e foram fator relevante de fortalecimento do real. Mas, em matéria cambial, o simples desmentido revela pelo menos a existência de profundo mal-estar com o problema. Um dólar barato demais em reais tende a desestimular o setor produtivo, porque tira competitividade à indústria, eleva demais as importações e, assim, pode provocar desequilíbrios comerciais. Afora isso, quando associado a juros altos, como agora, incentiva aplicações especulativas com juros. Até agora, o governo tem procurado reduzir a oferta de moeda estrangeira no mercado tanto por meio de taxação com IOF de certas aplicações estrangeiras como por compras pelo Banco Central. Mas a falta de opções de combate é consequência, também, de avaliações desencontradas a respeito da natureza do problema. Há pelo menos quatro diagnósticos que tentam explicar o tal câmbio fora de lugar. O primeiro denuncia o populismo cambial. Trata-se de facilitar importações de bens de consumo para favorecer os segmentos da população que estão melhorando de vida no Brasil. Nada menos que 30 milhões de brasileiros (uma Argentina) ascenderam da classe E para a classe D ou daí para a classe C. O Ipea sugere esse entendimento. O segundo diagnóstico é o da doença holandesa. É a avaliação de que o dólar está sendo pressionado para baixo porque o Brasil tem receitas em moeda estrangeira cada vez maiores com exportações de produtos primários (matérias-primas, alimentos e petróleo). O economista que mais vem insistindo nisso é o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira. Uma terceira avaliação tem a assinatura do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele denuncia a chamada guerra cambial. São os Tesouros dos países ricos e, mais do que eles, são os grandes bancos centrais, especialmente o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) e o Banco Central Europeu, que, a pretexto de combater a crise e o empoçamento do crédito, despejam trilhões de dólares e de euros nos mercados. Boa parcela dessa dinheirama acaba desembarcando por aqui e provoca o estrago conhecido no câmbio. Finalmente, há aqueles para os quais a principal explicação para a baixa do dólar é a atuação do governo federal e também do Banco Central, que acionam a chamada âncora cambial. Ou seja, vêm usando o câmbio como ator coadjuvante dos juros no combate à inflação. Quanto mais baixa a cotação do dólar, mais baratas chegam em reais as importações e um produto importado barato contribui para segurar os preços dos produtos de consumo produzidos internamente. Dizer que câmbio excessivamente valorizado é o resultado da atuação de todos esses fatores dificulta a adoção da terapêutica. E escolher um só foco pode ser ineficiente ou desastroso. Para o combate à tal doença holandesa, a recomendação seria a adoção de um confisco sobre importações, como sugere o professor Bresser-Pereira. Taxar investimentos externos, por sua vez, pode passar mau sinal quando o País mais precisa de poupança. Além disso, poderá bloquear a entrada de capitais de longo prazo, justamente quando o rombo nas Contas Correntes (sobretudo na área de serviços e renda) mais exige cobertura de capitais externos. O ministro Mantega está certo nas suas denúncias contra a guerra cambial, mas, em contrapartida, pouco ou quase nada consegue fazer para evitá-la. Uma nova rodada de empréstimos de longo prazo aos bancos europeus pelo BCE está agendada para o dia 29. Pode ser a senha para um contra-ataque do governo. |