O Estado de S.Paulo - 16/01/12
Os
aliados dão mais trabalho ao governo Dilma Rousseff do que a oposição
formal. Favorecimento das bases eleitorais, empreguismo de
correligionários, disputas pelo poder entre diferentes alas governistas e
mau uso de dinheiro público resultaram na maior parte do noticiário
negativo para a presidente. O principal problema político de Dilma está
dentro, e não fora do governo.
Como previsto, a tensão permanente
entre petistas e peemedebistas (e "socialistas" e "comunistas"), ou
mesmo entre governistas de um mesmo partido, tem sido a principal fonte
de vazamentos, intrigas e más notícias para Dilma. É o tradicional fogo
amigo, uma instituição tão brasiliense quanto a autoincineração da
grama.
Dos potenciais adversários da presidente em 2014, um
parece estar usando mais a oposição interna do governo do que o outro.
Enquanto José Serra (PSDB) faz seu discurso oposicionista em voz alta em
toda tribuna que encontra, o também tucano Aécio Neves usa toda a
experiência que herdou das raposas políticas mineiras para comer pelas
beiradas.
Cabo eleitoral. Ao aproximar-se do governador Eduardo
Campos, o todo-poderoso do PSB, Aécio criou uma potencial fragilidade
para a aliança PSB-PT que nem uma centena de discursos seria capaz de
produzir. Não é à toa que Dilma tem demonstrado tanto zelo para manter
um dos cabos eleitorais de Campos no ministério, a despeito da penca de
denúncias que pesa sobre ele.
Se o PSB é o nervo exposto do
momento, o maior problema de Dilma está em outro partido, o que chegou
ao Palácio do Planalto junto com ela. Também lá Aécio andou metendo sua
colher ao propor uma improvável aliança do PSDB com o PMDB do
vice-presidente Michel Temer na eleição de prefeito da capital paulista.
Após
a ditadura, o PMDB tornou-se o principal representante das oligarquias
provinciais e, como tal, o próprio status quo da política brasileira.
Desde o governo Sarney, os peemedebistas têm estado no governo federal,
fosse ele qual fosse. Mesmo quando não participou da aliança eleitoral
vitoriosa, aderiu ao governo a posteriori. É um partido perseguido pelo
poder.
No único caso em que o PMDB ficou alijado do centro do
poder, o presidente caiu por falta de apoio no Congresso. Pior com ele,
inviável sem ele.
Na primeira vez que o PMDB assumiu a
Presidência da República e dominou todas as estruturas de poder, o
presidente deixou o cargo nos subterrâneos da popularidade, com o País
em crise de hiperinflação.
Desde então, o desempenho patético de
seus candidatos nas eleições presidenciais confirmou para os caciques
peemedebistas que é muito mais negócio barganhar o valioso tempo de
propaganda do partido no rádio e na TV do que dar a cara a bater numa
eleição presidencial.
Para os candidatos dos outros partidos, o
PMDB é sempre a noiva mais cobiçada, a que tem o maior dote, mas também a
que sai mais caro para manter satisfeita após o casamento - e que cobra
um preço impagável em caso de separação.
Xadrez. Para sustentar o
maior dote das eleições presidenciais, o PMDB depende de seu poder
paroquial. E nada mais importante para isso do que as eleições de
prefeito. É a quantidade de prefeituras, e não necessariamente o tamanho
delas, que faz os peemedebistas elegerem uma das duas maiores bancadas
de deputados federais a cada pleito.
Esse fator faz das eleições
municipais um xadrez complicado para Dilma. Qualquer mudança abrupta do
equilíbrio de forças entre PT, PMDB e PSB pode resultar em crise da base
governista no Congresso depois das eleições. Deputados insatisfeitos
com as urnas vão cobrar a fatura do governo federal, não importa a qual
sigla estejam filiados.
Por isso, um eventual crescimento
substancial do número de prefeitos do PT pode ser uma vitória para o
partido e, ao mesmo tempo, uma tremenda dor de cabeça para Dilma.