domingo, janeiro 29, 2012

BC e Fed, a meta é crescer - ALBERTO TAMER




O Estado de S.Paulo - 29/01/12


Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciaram no mesmo dia mais transparência na divulgação do que pretendem fazer com a taxa de juros. Vai permanecer entre zero e 0,5% até 2014. No Brasil, o BC informou que o juro deverá cair 1 ponto porcentual nos próximos meses. Ninguém copiou ninguém, como se especulou no mercado. Ambos seguem o mesmo objetivo: crescer, em circunstâncias diversas.

O Fed já havia reduzido os juros para 0,5% na crise de 2008 e o BC cortou 2 pontos desde agosto depois de o ter elevado quando a inflação beirava 6,0%. Ben Bernanke reafirma que o banco tem mandato duplo de vigiar a inflação, que se estabilizou em 1,7%, e crescimento, que foi também de apenas 1,7% no ano passado. Num movimento histórico, anunciou na quarta-feira que adotará um sistema de metas de inflação, comprometendo-se com o índice de 2% - taxa que, na verdade, vem seguindo informalmente há tempo.

BC na mesma linha. Aqui, o BC já indica a mesma linha que, de fato, vem adotando há um ano. Administrar a inflação sim, mas estimular o crescimento também. O Copom deixou clara a preocupação com o recuo do PIB nos dois últimos trimestres de 2011 e a previsão de apenas 2,7% no ano.

E a inflação? O Copom diz que "são decrescentes os riscos da inflação não convergir para a meta de 4,5%. Os preços estão declinando há oito semanas e no último boletim Focus o mercado prevê um IPCA de 5,29%. Mais ainda, o BC tem cumprido as metas há oito anos seguidos, mesmo usando as margens de tolerância. As previsões são de o PIB crescer 3,5%, com inflação de 5% e juro real de 4%. O BC confia que o governo vai cumprir de novo o ajuste fiscal feito no ano passado, que fechou com um superávit de 3,1%. O aumento de 10% na arrecadação em 2011 pode não se repetir este ano, mas não deve recuar muito se o PIB crescer 3%.

Eles e nós. Nesses cenários, dois pontos favorecem o Brasil. O primeiro diz respeito à taxa de juro de 10,5% que é ainda muito alta e pode ser reduzida sem pressionar muito a inflação. Se a inflação ficar em torno de 5,5% e o juro recuar para 9%, a taxa real seria de 4%. Ao Fed e ao BCE não adianta cortar mais o juro básico que, mesmo negativo, não estimulou a demanda. Cenário idêntico ocorre na zona do euro, juro real também negativo, crise financeira que está se tornando crônica e recessão.

Mercado reage mais. Este é o segundo ponto positivo. O mercado interno brasileiro reage rapidamente aos estímulos fiscais e monetários, juros e redução de impostos, porque as famílias consumem pouco. Mesmo crescendo 10% no último ano, há ainda um contingente de pelo menos 20 milhões de pessoas entrando no mercado. A meta do governo é 14 milhões. Nada disso ocorre nos Estados Unidos, onde o PIB per capita é quatro vezes maior que o nosso e onde as famílias estão fortemente endividadas. Foi isso que levou Bernanke a prometer juro negativo por dois anos. Mesmo assim, sem muita esperança de sucesso. Vai ter de fazer mais.

Promessas. O Fed vem anunciando novas medidas para reanimar o mercado imobiliário, que não reage, e incentivos fiscais às empresas para criar empregos. Há, no fundo, um apelo ainda não atendido do governo e do Fed para que os americanos voltem a consumir. O cenário no Brasil é mais ameno. O desemprego, que recua, é ainda uma ameaça séria, sim, mas não nos próximos meses; a renda continua aumentando e o setor imobiliário segue se expandindo.

Mas.... Há um "mas" ao se comparar as duas situações porque eles estão na pior. Os EUA só agora reagem, a Europa afunda na recessão e o PIB mundial deve ficar em torno de 3%. Nesse cenário em que a crise europeia se torna "crônica" e Barack Obama enfrenta a maioria republicana suicida que se opõe a qualquer estímulo ao crescimento e ao emprego, o Brasil só pode esperar reveses externos. O Copom admite em sua ata que a crise europeia vai durar mais do que se esperava, por isso, anuncia que cortará os juros. É uma medida que, com as anunciadas pela Fazenda, deve aumentar a proteção contra a desaceleração da economia mundial. Vai ser um ano mais difícil, mas a equipe econômica está no caminho certo.