domingo, dezembro 11, 2011

19 meses depois, o acordo - ALBERTO TAMER



O Estado de S.Paulo - 11/12/11


O mercado financeiro internacional aprovou, sim, mas recebeu sem entusiasmo o acordo de unificação fiscal acertado na madrugada de sexta-feira, por 26 dos 27 membros da União Europeia, em Bruxelas. Só o Reino Unido do primeiro-ministro David Cameron ficou de fora - Hungria, Suécia e República Checa se comprometeram a aderir após uma consulta aos parlamentos. Foi um grande passo no 20.º aniversário do Tratado de Maastricht - e após 19 meses de desentendimento -, que foi o primeiro plano criado para conter os problemas da dívida europeia.

No acordo de Bruxelas, os líderes europeus decidiram destinar 200 bilhões para o FMI combater a crise e evitar sua repetição. Eles anteciparam de 2013 para julho do próximo ano o início de um fundo de resgate de 500 bilhões e desistiram da demanda de que os detentores de bônus deveriam assumir perdas nos resgates, como aconteceu com a dívida grega. Já foram muito castigados e estão recebendo recursos do Banco Central Europeu.

Neste fim de semana, a posição dos investidores era de pedir que medidas urgentes e de resultado imediato fossem aprovadas para garantir a rolagem da dívida da Itália, da Espanha e de outros países que venham a enfrentar problemas dessa ordem. Eles anteciparam o início de um fundo de resgate de 500 bilhões: é pouco, dizem os investidores, que esperavam no mínimo 1 trilhão.

A dívida é de 1,1 trilhão. Segundo levantamento da Bloomberg, os governos da zona do euro devem pagar mais de 1,1 trilhão em dívida de curto e longo prazos em 2012. Destes, 519 bilhões de títulos da Itália, França e Alemanha vencem no 1.º trimestre. No caso da Itália, 300 bilhões vencem em 2012. O fundo atual e o mecanismo de resgate ficam muito aquém do que é preciso.

Mais ainda, só devem entrar em operação em seis meses e isso se tudo correr bem e não houver mais desentendimentos como os que ocorreram nestes 19 meses de indefinição.

Há muitas dúvidas, ainda, sobre a criação, agora anunciada, de uma espécie de fundo de socorro permanente, o chamado Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) em julho do próximo ano, quatro meses depois que os países assinarem definitivamente, em março, o acordo fiscal aprovado na sexta-feira. É certo que cerca de 200 bilhões serão repassados para o FMI, que poderá usá-los na compra de títulos dos países endividados. Estima-se que o Fundo estaria se preparando para comprar 150 bilhões em títulos, mas isso vai depender da liberação dos recursos.

Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, havia afirmado um dia antes da reunião que o acordo proposto pela Alemanha era insuficiente. Ao término do encontro, limitou-se a dizer que "nós podemos estar muito satisfeitos com os resultados". De acordo com a unanimidade dos analistas, o caminho está aberto, só falta evitar adiamentos e apressar o passo. Por exemplo, não esperar até março para a assinatura do acordo e antecipar tanto quanto possível o novo mecanismo de estabilidade.

O BCE está atendendo às necessidades imediatas de liquidez dos bancos europeus, estimadas em 115 bilhões, reduziu o juro básico. O que os investidores esperam agora é mais agressividade na compra de títulos, sem ter de passar pelo FMI. Um desafio a enfrentar.

Tudo bem aqui. Para o Brasil, as decisões da União Europeia são bem-vindas, podem retirar a tensão do mercado internacional e reduzir o custo das captações externas que aumentou, esse foi um dos principais canais de contágio da crise soberana europeia. O custo do financiamento das exportações aumentou. Aqui o peso é menor porque as exportações se concentram em commodities menos flexíveis à desaceleração mundial e, muito mais, destinam-se principalmente aos países asiáticos, que estão investindo pesadamente.

Começa quando acaba. Sim, só quando a crise do euro for superada é que a União Europeia vai pensar em crescer. O que se espera para o próximo ano: recessão, desemprego de dois dígitos, consumo achatado, problemas de financiamento da produção.