QUANDO SE fantasiava o fim rápido da crise americana, falava-se em "jobless recovery", recuperação sem empregos. A economia sairia do pântano, mas muito trabalhador permaneceria no lodo do desemprego. Ficou evidente mais tarde que nem de recuperação se tratava.
Será possível que ocorra no Brasil o fenômeno também algo fantástico da retração sem desemprego?
De costume, o nível de emprego costuma reagir de modo retardado a altas e a baixas da economia.
Quando o crescimento arrancava sob Lula, em meados de 2007, o desemprego andava ainda em 10%; hoje, está em 6%. Mas o que interessa não é bem essa comparação.
Considere-se o saldo de empregos com carteira assinada. Sobe mais devagar neste final de ano em que o PIB (Produto Interno Bruto) terá avançado a 3,5%, no máximo, menos da metade de 2010.
Mas o emprego formal nos últimos 12 meses cresceu 5,71%, ante o decerto rápido ritmo de 7,88% em 2010, mas quase no mesmo andamento dos 5,65% de 2008. O número é ainda melhor quando se lembra que a base de comparação é alta: que foi bom o passo de criação de empregos formais sob Lula.
Quando se trata da construção civil, um canteiro histórico de precariedade do trabalho, o avanço foi ainda mais rápido, mais de 13% ao ano de 2005 a 2010, ante 6% da média brasileira nesse período; ou de quase 16% no acelerado 2010.
Nos últimos 12 meses, porém, o ritmo caiu: para ainda 9%. E daí?
Um relatório divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Sondagem de Indústria da Construção, registra queixas e algum pessimismo do empresariado do setor.
Houve queda na atividade e recuo no número de empregados, em particular em infraestrutura. Passou o ano eleitoral; o governo federal está gastando menos.
No entanto, qual é ainda o principal problema enfrentado pelos empresários? "Falta de trabalhador qualificado."
Para 48,8% das grandes empresas, esse é o principal problema (queixa ainda maior para as pequenas e médias). A preocupação era maior (68,1% no trimestre anterior), mas ainda é líder.
"Falta de demanda" é a quinta queixa das empresas grandes, com citações em 19,5% dos casos.
Segundo levantamento da CNI, os pagamentos do governo federal na área de infraestrutura correspondem a 40% do previsto até agora (incluídos restos a pagar).
Relatório de ontem de economistas do Itaú diz que as despesas do governo federal cresceram 3,1% em termos reais, neste ano, um terço do ritmo de 2010, mais ou menos. Onde se fez mais força para dar conta do "ajuste"? Nas despesas de capital, de investimento, que caíram até agora 27% ante 2010.
Não é provável que em 2012 o governo federal segure investimentos como agora; prefeitos e governadores também devem voltar a gastar. É razoável esperar mais desaceleração no emprego da construção?
Por ora, o setor que pisa mais rápido no freio do emprego formal é o comércio, que pode ter o pior ano em uma década, no entanto com alta ainda de uns 3% no estoque de emprego formal.
Mas, tanto no que interessa à política eleitoral como à inflação, essa desaceleração é relevante?