sexta-feira, novembro 18, 2011

Por que Dilma faz sucesso? João Mellão Neto

O Estado de S. Paulo - 18/11/2011
 

 

João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal e estadual, secretário e ministro de Estado.

Pesquisa CNI/Ibope recente aponta que a presidente Dilma Rousseff, em setembro, foi aprovada por 71% da população. Esse resultado foi melhor que os de Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Henrique Cardoso em igual período de governo, em seus primeiros mandatos. É um índice espetacular. O pessoal de seu partido, o PT, deveria estar exultante... Porém não está. Na verdade, os petistas autênticos - ideológicos - estão é muito apreensivos.

E qual seria a razão para tamanho desalento?

Simples. A popularidade de Dilma Rousseff não se deve ao desempenho da economia nem à excelência da sua gestão. O primeiro indica um crescimento pífio e a segunda se tem caracterizado pelo curto prazo de validade de seus ministros. Dilma está com a bola toda por motivos que os petistas julgam equivocados. Ao menos aos olhos dos militantes do partido. A sua tão festejada "faxina ética" é algo que contraria todos os dogmas da esquerda.

Combater a corrupção com moralismo não funciona, alertam alguns. A corrupção é inerente ao sistema capitalista, proclamam outros.

Basta consultar os principais blogs simpáticos à "causa" para saber que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - anjo decaído do poder central -, permanece sendo um ícone para a militância partidária. Por ocasião do 2.º Congresso da Juventude Petista, no último domingo, Dirceu ponderou que, "nas duas vezes em que houve lutas moralistas contra a corrupção, deu no Jânio e no Collor: um renunciou e o outro sofreu impeachment".

Já o presidente do Partido dos Trabalhadores, nesse mesmo congresso, concluiu que "os adversários de Agnelo (Queiroz, governador do Distrito Federal, investigado pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de desvio de dinheiro público) são canalhas e caluniadores. Eles tentam atingir o PT".

Dirceu, ao final do congresso petista, foi brindado com uma camiseta onde se lia: "Contra o golpe das elites".

Qual é o raciocínio que rege tão estranhas manifestações?

Que elites seriam essas, malvadas, que pretendem dar um golpe no democrático governo do PT?

Pelo visto, não são as elites da política e do sindicalismo - que compartilham o governo por intermédio do PT. Tampouco as elites econômicas e empresariais - escolhidas por critérios obscuros -, beneficiadas pelo crédito abundante e subsidiado do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, mais conhecido como BNDES. E também não são, com certeza, os privilegiados "especialistas" que prestam consultorias milionárias às empresas estatais e aos fundos de pensão, porque tudo isso também é vinculado ao PT.

Então, se as tais elites malvadas não são nenhuma dessas acima apontadas, a que outras elites os dois dirigentes partidários se referiram?

Trata-se do seguinte: os petistas, bem como os demais socialistas, entendem que o grande roubo existente na sociedade é a exploração dos proletários pelos seus patrões. E a grande missão que lhes cabe no mundo é denunciar aos pobres que eles continuam pobres porque os ricos estão cada vez mais ricos. Os burgueses, por natureza, pouco ou nada trabalham. Vivem à custa da "mais-valia" que extraem do trabalho da massa proletária. Somente por meio da "conscientização" dessa massa a revolução se tornará possível...

Dentro da lógica deles, o combate à corrupção nos órgãos do governo é uma meta secundária, uma mera manifestação de moralismo pequeno-burguês.

Num sistema igualitário - como o que eles defendem -, a propriedade privada seria abolida e, assim sendo, as pessoas não teriam mais por que ambicionar riquezas. E muito menos por que buscar obtê-las por meios escusos.

Apresentada assim, até parece uma boa ideia... Só que existe um porém.

Todas as pessoas nascem iguais, é verdade. Mas os seus anseios, os seus talentos e os seus esforços acabam por torná-las diferentes. Nivelá-las, todas, por baixo, novamente, é algo que requer coerção e arbitrariedade. E a História nos ensina que sempre que a coerção e a arbitrariedade se apresentam à porta é a democracia que foge pela janela.

Não é à toa, portanto, que os petistas pregam o "controle social da mídia". É uma forma, digamos, educada de dizer que eles pretendem tolher o nosso direito de discordar. Não, não se trata de censura à imprensa, alegam. É apenas, talvez, uma pequena limitação do que a imprensa pode publicar...

Pessoalmente, eu sempre duvidei daqueles que acreditam saber julgar, melhor do que o povo, aquilo que o povo realmente quer e precisa.

Como Deus não revelou a sua Verdade a ninguém, como a nenhum partido político é concedido o direito de se arvorar em concessionário exclusivo da virtude e das boas intenções, o mais seguro para todos é preservar a liberdade. E a liberdade só se consuma por meio do pleno exercício de eleger e poder ser eleito, da alternância no poder, da segurança de poder discordar, da sacralidade dos direitos humanos, da justiça igual para todos, do respeito às prerrogativas de cada um. E, por fim, do direito, assegurado aos indivíduos, de cada um poder ser feliz à sua própria maneira.

E quanto ao povo em geral? É justo viver na miséria? É legítimo morrer de fome? Não existiriam, também, "direitos sociais" para ele?

Sem dúvida. Mas é preciso compreender que o povo que deseja o pão é o mesmo que exige honestidade. As pessoas, que são quase todas elas decentes, não admitem que os políticos não o sejam.

É por isso que Dilma faz sucesso. E é por isso, também, que o PT não faz.