domingo, novembro 27, 2011

HOSPITAL DE GRIFE? LOUIS VUITTON -ELIO GASPARI

FOLHA DE S PAULO

HOSPITAL DE GRIFE? LOUIS VUITTON

A elite do empresariado carioca está passando o chapéu para a construção, na cidade, de uma sucursal do hospital Albert Einstein, de São Paulo. Coisa de gente grande, como Armínio Fraga e Olavo Monteiro de Carvalho.

A ideia é boa porque um hospital é sempre melhor que nenhum hospital. Pretende-se abrir uma instituição que atenda o andar de cima (com bons planos de saúde) e faça procedimentos de alta complexidade (que são lucrativos mesmo quando o paciente é do SUS). Falava-se num investimento de R$ 450 milhões e já se fala em R$ 600 milhões.

Mesmo sendo boa, a ideia estimula a tendência que degradou a medicina do Rio
. Até os anos 60, a cidade tinha uma grande medicina privada, com os dois pés na Universidade do Brasil, atual UFRJ, e uma boa medicina pública.

O melhor hospital do país era o dos Servidores. Ortopedia? Miguel Couto. Cirurgia geral? Ipanema, Andaraí ou Lagoa. Havia também um grande projeto: o das Clínicas do Fundão. Sucatearam quase tudo. Enquanto isso, em São Paulo, a mesma medicina saída da universidade vitalizou as Clínicas e criou o Incor (versão 1.0). Esse ambiente gerou uma grande medicina privada e hospitais como o Einstein e o Sírio. A recíproca não é verdadeira: Einsteins e Sírios não geram universidades nem medicina pública, aquela que atende turma do SUS.

Steve Jobs tinha horror à filantropia. Ele dizia que quitava sua dívida social trabalhando e pagando impostos. Mesmo assim, a Apple juntou-se a grandes empresas do Vale do Silício e todas entraram com US$ 150 milhões para que Stanford construa um Centro Médico na universidade (uma conta de US$ 2 bilhões). Os hospitais universitários americanos atendem a patuleia do Medicaid (os indigentes) e do Medicare (os cidadãos com mais de 65 anos têm direito a 80% do custo do atendimento hospitalar e quem contribuiu com US$ 100 mensais para o programa por mais de dez anos recebe atendimento médico adicional). Em Pindorama, quem tem mais de 65 anos em geral fica sem plano de saúde.

Quase todos os grandes hospitais universitários americanos tiveram e têm apoio de endinheirados. É sabida a dificuldade para associar ações de filantropia ao corporativismo catastrofista que debilita a medicina e as universidades públicas nacionais. Se um sujeito entra no hospital público segurando uma perna e outro, com uma maleta, oferecendo R$ 10 milhões, desde que lhe digam o que se fará com seu dinheiro, meses depois o da perna sairá andando e o da maleta continuará lá. Os grandes empresários do Rio dispõem da colaboração de bancas de advogados capazes de criar instituições protegidas contra essa praga.

Se isso não for possível, paciência, mas se o negócio é grife, pode-se criar o hospital Louis Vuitton, no qual só se entra com alguma peça do maleiro da mulher de Napoleão 3º.