domingo, novembro 06, 2011

ALBERTO TAMER -Brasil e G-20, dinheiro não


E o G-20 decidiu rapidamente não dar dinheiro à União Europeia comprando títulos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). Não são confiáveis. Quando muito só com garantia do FMI, que por sua vez também quer mais recursos para socorrer a Europa, que já absorve e compromete 71% do seu orçamento. Uma distorção porque é dinheiro que vai faltar para socorrer os países menos desenvolvidos. A questão da semana era quem socorreria o Fundo para que ele socorresse a zona do euro. Assunto adiado para dezembro quando haverá uma nova reunião dos ministros de Finanças.
Zona do euro não é confiável. Ninguém acreditou nos números da zona do euro, porque estavam baseados em promessas antigas que não foram respeitadas. Ao contrário, a situação se agravou com mais um capítulo da tragédia grega que se transformou nesta semana em "novela das 8". Referendo ou não referendo, eis a questão.
Obama aprendeu. Ele até ironizou diante de tanta incerteza que se eterniza. "Nestes dois dias aprendi muito com o processo de decisão na Europa..." Parece que eles sabem muito bem como fazer para não decidir. Obama, como Dilma, disse que por enquanto não vai dar mais dinheiro ao FMI. Também como Dilma, fechou a mala e voltou para cuidar de seus problemas sobre os quais podem agir, como crescer sem mais inflação. Ao contrário da Europa, sabem o que devem e estão fazendo.
Brasil também diz não. O Brasil se saiu bem da reunião do G-20. Dinheiro agora, não. Dilma tentou amenizar, "foi um sucesso relativo", mas foi categórica e incisiva: "Não temos a menor intenção de fazer qualquer contribuição ao Feef. Se nem os europeus têm, porque nós teremos? Faremos por meio do FMI." E, mesmo assim, assunto ainda a discutir. É dinheiro suado. De acordo com despacho da BBC, ela teria acrescentado: "O dinheiro das reservas foi conseguido com muito suor, não pode ser usado de qualquer maneira."
Podia interpretar-se como que dizendo: vamos dar um empurrãozinho para que eles não caiam logo, mas com os dois pés escorados no FMI. A questão, neste fim de semana melancólico era saber quem ia escorar o FMI. Lagarde também saiu de Cannes de mãos vazias. Ninguém prometeu nada ao FMI. Assunto adiado para depois? Quando, ora, na reunião dos ministros das finanças em dezembro.
Toma que o problema é teu. No fundo, foi esse o recado do G-20, bem resumido pela primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard: "A Europa precisa primeiro por a casa em ordem." Que eles se reúnam com o BCE, que criem recursos para capitalizá-lo, que emitam euros se for preciso. (O Fed, nos EUA, não está criando mais de US$ 2 trilhões e deve emitir ainda mais?)
Só que até agora o BCE rejeitava assumir mais compromissos , discutia se deveriam comprar mais títulos dos países em crise. Estava mais preocupado com a inflação "galopante" de 3%. Ufa...
BCE mudou. E aqui a única notícia positiva da semana. O novo presidente do BCE, o italiano Mario Dragghi, anunciou uma redução de 0,25% nos juros para mesmo com a inflação mais alta. Deu a entender que um novo corte dos juros pode vir até mesmo antes da próxima reunião. Há pressa no momento porque nada se fez até agora e a recessão parece que deixou de ser um risco para se tornar um fato. A taxa atual ainda está em 1,25% e pode recuar para menos de 1%. Afinal, nos Estados Unidos, logo no início da crise de 2008, o Fed o fixou entre 0 e 0,5%. Eles já conseguiram sair da recessão que parece não ser mais uma ameaça e sim um "quase fato" na União Europeia que cresce apenas 0,2%.
Tudo indica que o PIB neste trimestre será negativo e não há sinais, no momento, que esse cenário se altere sem uma ação urgente e coordenada que ainda não existe.
A decisão do presidente do BCE é extraordinária e inovadora, porque seu antecessor havia, acreditem, até aumentado os juros duas vezes em plena crise!
E nós? Ora, a presidente voltou para cuidar de problemas mais sérios, como crescer, sem mais inflação e blindar a economia contra os desvarios externos.
Ah! ia esquecendo. O comunicado final do G-20 diz que os países da Europa "se comprometem a adotar uma série de medidas para ajudar a recuperação da crise e garantir estabilidade na Eurozona com saneamento das contas públicas". Outra novidade retumbante, "a China promete convertibilidade do yuan e redução das reservas". Vocês não acham que é engraçado?