GLOBO - 02/11/11
O tombo de 2% na produção industrial em setembro superou todas as expectativas, pela intensidade. Analistas esperavam um resultado negativo, o quarto consecutivo do ano, mas o recuo foi além das previsões mais pessimistas, deixando algumas perguntas no ar. A queda na produção da indústria aponta um crescimento mais acanhado da economia em 2011 e 2012, mas não se sabe exatamente o tamanho dessa desaceleração.
Desde o fim do ano passado, o governo vem adotando medidas para conter a economia e a inflação. Elevou juros, restringiu o crédito e cortou investimentos. Mas o plano era um pouso suave, dos 7,5% de 2010 para algo em torno de 3,5% ou 4%. O que vemos agora são previsões bem mais acanhadas para este ano e o próximo, abaixo dos 3%.
O economista Julio Almeida, do Iedi, diz que os números de setembro da indústria deixaram a sensação de que a dose do remédio para conter a economia pode ter sido excessiva e destaca um aspecto interessante. O excesso pode estar localizado na combinação das medidas com o discurso do governo alertando para a gravidade da crise internacional.
— O governo bate muito nessa tecla, e isso está afetando as expectativas dos empresários e as decisões de investir. A forma como a equipe propagou a crise internacional pode ter sido além da conta — observa.
A queda de 5,5% na produção de bens de capital em setembro é um indicativo claro da perda de confiança dos empresários e um sinal de que a crise externa já nos afeta.
Na visão do economista Flávio Castelo Branco, da CNI, o resultado de setembro da indústria reflete uma combinação do ambiente doméstico com a crise internacional. Ele concorda que a retração na produção de bens de capital é uma sinalização importante de desaceleração futura:
— Reflete as expectativas. O empresário com confiança alta se arrisca, contrata e investe. Se perde a confiança, ele se retrai.
Para baixo
A produção industrial vem encolhendo. A maior concorrência com os importados e o fraco dinamismo das exportações de bens manufaturados são algumas das razões, diz Rafael Bacciotti, economista da Tendências. Neste trimestre o desempenho deve ser melhor, mas não suficiente para deslocar essa trajetória. Assim, Bacciotti revisou a projeção para o crescimento da indústria no ano de 2% para 1%. Em 2010, o setor cresceu 10,5%.
G-20 do B I
Embora a crise da zona do euro domine a cúpula do G-20, os empresários brasileiros que participam do B-20, grupo empresarial que se reúne antes do encontro de líderes mundiais, estão focados na discussão da reforma do sistema monetário internacional. “Um sistema estável exige que os países do G-20 se comprometam com políticas internas sólidas, coordenação macroeconômica, restauração da estabilidade do setor financeiro e políticas estruturais pró-crescimento”, diz o documento com as propostas dos brasileiros. Reforçar o papel do FMI e caminhar para um sistema monetário multipolar, que incentive a conversibilidade e flexibilidade de moedas relevantes para o comércio e investimento, como o yuan chinês, estão entre as propostas.
G-20 do B II
O presidente da CNI, Robson Andrade, que participa da reunião do B-20, considera que qualquer sinalização da cúpula do G-20 no caminho de uma reforma do sistema monetário internacional é muito importante neste momento em que a crise global pode acirrar os movimentos protecionistas:
— É preciso tornar esse sistema mais estável, mais previsível e flexível, de forma que não se criem entraves e embaraços ao comércio internacional. O Japão já fala em proteger sua moeda. A China já faz isso e pode aumentar a proteção. Temos de trabalhar por um comércio internacional mais ético.