O GLOBO - 24/10/11
Estava tudo encaminhado por Dilma - foi o que ela imaginou. Orlando Silva, ministro do Esporte, pediria para deixar o cargo. O PCdoB, que manda no ministério há quase nove anos, indicaria o sucessor dele. E a "faxina ética" avançaria mais um degrau com a demissão do quinto ministro em dez meses. Um recorde! Mas aí... aí o cozido desandou.
Por culpa de quem? De Dilma, que mandava com mão de ferro no seu governo até que esbarrou em outra mão, antigamente dócil, e que também se fez de ferro. Aconselhado por Lula, o PCdoB decidiu mostrar a Dilma que não queria ser tratado como o foram o PR, o PMDB e o PT no caso das demissões dos ministros da Casa Civil, dos Transportes, da Agricultura e do Turismo. Comigo não, violão!
O PCdoB é o único partido que apoia o PT desde que Lula foi candidato pela primeira vez a presidente da República, em 1989. Se em algum momento se vê em rota de colisão com o PT, sai da frente. Contenta-se em seguir à sombra do PT. Em troca, espera ser aquinhoado com tenras fatias do poder. Nada capaz de criar problemas, de fazer falta ou de aborrecer o seu aliado.
Que bala de prata guardava o PCdoB? Anote o nome dela: Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal eleito pelo PT. Durante o primeiro governo de Lula, ainda na condição de membro do PCdoB, Agnelo foi ministro do Esporte. O secretário-executivo do ministério era Orlando Silva. Pois bem: se Orlando fosse tragado pela lama que escorre do ministério, Agnelo também o seria. Palavra do PCdoB.
Então pensando melhor, Dilma preferiu deixar Orlando onde ele está. Se até o fim do seu governo, se até a reforma ministerial que ela pretende promover no próximo ano ou se até esta semana, não se sabe. E a levar- se em conta o estilo centralizador de Dilma e o pavor que ela tem de vazamento de informações, é possível que não saibam nem os seus auxiliares de maior confiança.
Lula! Sim, Lula talvez saiba. Afinal, se dependesse dele, Orlando só deixaria o ministério quando Dilma descesse a rampa do Palácio do Planalto. Foi ideia de Lula manter Orlando no ministério Dilma era contra. E tinha razões de sobra para ser. Como chefe da Casa Civil da Presidência da República, conhecia o que se passava no Ministério do Esporte desde a época de Agnelo. E não gostava nem um pouco.
O ministério virou um aparelho do PCdoB, onde ele emprega militantes que não podem ficar ao desamparo. O ministério virou uma incubadora de organizações não governamentais (ONGs) ligadas ao PCdoB e favorecidas com dinheiro público. O ministério virou um dos órgãos do governo mais crivados por suspeitas de envolvimento com irregularidades e roubalheira. Quer alguns exemplos?
Problema de gestão: o Tribunal de Contas da União (TCU) descobriu que o Ministério do Esporte deixou de analisar 1.493 prestações de contas de uso de recursos federais em convênios do ano passado, avaliados em R$ 801 milhões. Em 2009, de 160 convênios firmados com ONGs, 105, no valor de R$ 88,3 milhões, não foram vistoriados. Foram encontradas fragilidades nos 55 convênios vistoriados (R$ 68,8 milhões).
Suspeita de roubo: a Controladoria Geral da União pediu a devolução de R$ 12,5 milhões repassados pelo ministério às ONGs Universidade do Professor, do Paraná, e Rumo Certo, do Rio. A primeira está fechada há quatro meses. A segunda, desde 2009. Sumiram R$ 2,5 milhões injetados em 2006 pelo ministério na Associação dos Servidores do TCU na época presidida por um militante do PCdoB.
A oposição no Congresso cobra a demissão de Orlando, mas torce para que ele fique no ministério o maior tempo possível. Aposta, é claro, no desgaste do governo. Com a saída de cena dos ministros vítimas da faxina ética , o governo foi dispensado de dar explicações para os malfeitos produzidos por eles. Com a permanência de Orlando... Baixa outra cerveja. Toca mais uma música. Segue a festa.