O ESTADÃO - 16/10/11
Esta diretoria do Banco Central formatou sua administração de um jeito diferente da anterior. Não se dispõe a pilotar voo solo. Só em último caso deixará de cumprir o combinado previamente com o governo federal. Em outras palavras, não faz questão de trabalhar com autonomia, como a equipe que sucedeu fazia.
E o que a presidente Dilma Rousseff já anunciou como tarefa da autoridade monetária: derrubar a Selic para a casa dos 9% ao ano em 2012, algo que pode ser entendido como meta de juros.
Isso significa que, nas próximas dez reuniões do Copom (duas em 2011 e oito em 2012), devem cair 3 pontos porcentuais. Se a inflação, de fato, convergir para a meta, como está nas apostas do Banco Central, isso corresponderia a juros reais (descontada a inflação) próximos dos 4,5%.
Com todos os meios à sua disposição, o Banco Central vem argumentando que o período ideal para derrubar os juros básicos no Brasil é agora. É tarefa, dizem seus comunicados, que tem tudo para ser ajudada pela recessão ou, se não por isso, pelo crescimento bem mais baixo da economia global; pelo provável recuo da inflação das commodities; e pela desaceleração da atividade econômica no País.
Esses não são propriamente panoramas suficientes para cumprir o projeto do governo federal. Mas, por enquanto, o Banco Central está determinado a levá-lo adiante. Aparentemente, só estará disposto a rever essa estratégia caso, lá pelas tantas, se configure um estouro do teto da meta (4,5% mais os 2% de tolerância).
E o que poderá dar errado? São quatro os fatores que levam o risco de puxar a inflação para além desse limite. O primeiro deles é a recuperação da economia mundial ou uma desaceleração não suficientemente forte a ponto de derrubar os preços das commodities e, com eles, os preços dos alimentos também no Brasil.
O segundo é o maior descolamento dos preços do setor interno de serviços, que já vem crescendo a 9% em 12 meses. O terceiro é a demanda excessiva no mercado interno, que pode ser mantida pelo ainda forte aquecimento do mercado de trabalho e pelo reajuste da renda acima do avanço do índice de produtividade. (A intensificação dos investimentos em infraestrutura e nas obras para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016 sugere que isso pode ocorrer.)
E há o quarto fator, que, por enquanto, é somente uma boa hipótese. Trata-se da propensão à aceleração das despesas públicas num ano eleitoral, como será 2012. O risco é de que o governo federal não cumpra seu compromisso de entregar um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida pública) da ordem de 3,1% do PIB.
Em todo o caso, esses puxadores de inflação ainda terão de se confirmar. Por enquanto, o Banco Central não olhará para eles com preocupação. Seu principal objetivo é corresponder a determinação do governo Dilma. Isso quer dizer que, enquanto puder, continuará determinado a cortar a Selic em pelo menos meio ponto porcentual por vez.