O GLOBO - 15/10/11
O economista Carlos Langoni, da Fundação Getúlio Vargas, vê uma grande falha institucional no lançamento do euro. A âncora monetária foi muito bem construída, com a criação do Banco Central Europeu, mas faltou uma âncora fiscal forte. O Tratado de Maastricht trouxe um limite para o déficit que nunca foi levado muito a sério pelos governos de um modo geral, não apenas dos países que hoje estão na berlinda.
Esse problema foi apontado pelo presidente de Portugal, Cavaco Silva, em palestra realizada em Florença, esta semana. Ele disse que a crise não pode ser atribuída apenas aos Estados financeiramente indisciplinados, acusando Alemanha e França de darem o mau exemplo quando deixaram de cumprir os limites do déficit já em 2005.
O economista Rafael Martello, da Tendências, observa que a crise de 2008 expôs as fragilidades fiscais dos países do bloco e a atual mostrou que não é mais possível seguir em frente sem reformas estruturais profundas. O Estado de bem-estar social não é mais financiável e tem que ser repensado. Este é o lado ruim da crise, o alto custo social.
O aspecto positivo, destaca Langoni, é que a crise vai forçar os países a avançar do ponto de vista institucional, como aconteceu no Brasil no passado recente, com o saneamento e reestruturação do sistema financeiro e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
É exatamente nesse sentido que a Europa precisa caminhar, com a reforma do sistema financeiro e um ajuste fiscal sustentável. Não é fácil, nem será feito de uma vez. É um processo penoso e politicamente delicado, mas o fato é que a crise sem precedentes na Zona do Euro abriu uma janela para que a região avance em direção ao fortalecimento.
O que os analistas esperam é que superada esta fase aguda de turbulência surja uma Europa menos suscetível a choques, um bloco mais forte, mais estável, mais unificado, com um sistema pró-ativo que atue preventivamente para evitar novo colapso.
Afinal, como alertou o presidente português Cavaco Silva, na palestra em Florença, a União Europeia vive horas decisivas para o seu futuro e o que está em jogo é nada menos do que o projeto de unificação.
Efeito interno
A divulgação do índice IBC-Br de agosto, pelo Banco Central, reforçou a expectativa dos economistas de crescimento próximo de zero ou até negativo no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. Mas a crise internacional tem pouco a ver com esse resultado ruim. A queda no nível de atividade está mais relacionada a medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, no começo do ano, quando o risco era de superaquecimento, destacam os economistas Newton Rosa, da Sul América Investimento, e André Perfeito, da Gradual Investimentos.
- Não acredito que a crise seja a principal responsável. O efeito é muito limitado sobre a economia brasileira e por enquanto está restrito à queda da confiança dos empresários - disse Rosa, que prevê estagnação no terceiro trimestre.
Já Perfeito estima que o PIB do terceiro trimestre recuará pelo menos 0,25%. Ele aponta a elevação dos compulsórios em dezembro de 2010; a alta da Selic na primeira metade do ano; e o aperto fiscal implementado pela presidente Dilma no início do mandato como principais causas da desaceleração.
RECORDE NO CARTÃO: O Banco do Brasil bateu recorde na concessão de crédito via Cartão BNDES. Nos últimos dois meses, o volume transacionado chegou a R$1,075 bi.
DE VOLTA AO AZUL: Depois de fechar com os maiores ganhos semanais desde 2009, os índices americanos Dow Jones e Nasdaq voltaram ao terreno positivo no acumulado do ano.
ESTRATÉGIA: O Banco Central chileno manteve esta semana a taxa de juros inalterada pela quarta vez seguida. A estratégia é aguardar os efeitos da crise antes de começar a cortar.