FOLHA DE SP - 22/10/11
BRASÍLIA - O Brasil tem 29 partidos políticos. Todos são bancados pelo dinheiro de quem paga impostos. É natural, numa democracia, a sociedade assumir tal tipo de custo.
Mas o modelo brasileiro é anômalo. Sofre de democratismo. Diferentes são tratados como iguais. Quando acabou a ditadura militar, nos anos 80, optou-se corretamente por facilitar a criação de novas siglas. Afinal, o sistema partidário estava dilapidado. Que florescessem as mil flores. Só que passaram-se perto de três décadas e a leniência continua. Grupelhos quase sem voto seguem com seus espaços, mesmo sem ter expressão nas urnas.
Esse é o caso do PC do B, partido envolvido no atual escândalo do Ministério do Esporte. Trata-se de uma microssigla. Tem 15 deputados e 2 senadores. Quando aparece na TV e no rádio (espaço bancado com dinheiro público), tem a mesma visibilidade oferecida ao PT, PMDB ou PSDB, siglas muito maiores e com mais representatividade popular.
Foi assim nesta semana. O PC do B apareceu por dez minutos em rede nacional de rádio e TV. Atrasou telenovelas, jornais e transmissões esportivas. O tema da propaganda foi a defesa de Orlando Silva, encrencado por causa de acusações de traficâncias no Esporte.
Orlando Silva e o PC do B têm o direito de se defenderem. Os partidos devem ter espaço público para expressar seus pensamentos. Só não há como enxergar justiça no oferecimento de um tratamento VIP a quem não recebeu apoio equivalente nas urnas.
Partidos como o PC do B distorcem a realidade da política. Até Dilma Rousseff teve de dar declarações simpáticas à legenda. Essas siglas são linhas auxiliares das grandes agremiações durante eleições.
Sanguessugas de dinheiro público, não têm chance de chegar ao poder e sobrevivem porque ninguém no Congresso tem coragem de acabar com essa disfuncionalidade.