O Estado de S. Paulo - 27/09/2011 |
Uma vez admitida a inevitabilidade do calote (default) da Grécia, as discussões agora giram em torno do que fazer para que o processo seja minimamente ordenado.
O setor mais vulnerável hoje a uma implosão é o dos bancos europeus – e não somente gregos. O grande risco de contágio não é de que outros países sigam a Grécia abismo abaixo. É, sim, o rombo nas finanças dos bancos provocado pelo calote, catapultado pela ameaça de outros sócios do euro também quebrarem e aprofundarem o estrago no patrimônio dos bancos.
Isso significa que a tarefa imediata consiste em preservar os bancos. O Fundo Monetário Internacional já avisou: apenas na Europa, será preciso capitalizar os bancos em mais de 200 bilhões de euros. Como já aconteceu, provavelmente esse volume está subdimensionado e será preciso mais.
Desta vez, não se pode falar em lambanças dos bancos, como aconteceu durante o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em 2008. Os bancos não fizeram outra coisa senão financiar os Tesouros soberanos, com aval do Bank for International Settlements (BIS) – organismo que funciona como banco central dos bancos centrais. É que, até recentemente, o BIS considerava os títulos públicos como ativos praticamente sem risco. Mas, agora, se vê que não é assim.
Há apenas dois meses, para não deixar os Tesouros sozinhos com a tarefa do saneamento, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pretendia que os credores assumissem "voluntariamente" um pedaço da conta da renegociação da dívida pública grega. A essa proposta, o Banco Central Europeu (BCE) se opôs radicalmente, por prever a trombada a que estaria sujeito o patrimônio dos bancos, afinal, os principais credores. Agora, no entanto, o corte de cabelo, como se diz no jargão das finanças, não poderá mais ser "voluntário". Se o calote se confirmar, será imposto unilateralmente e produzirá estragos, provavelmente, maiores.
Mas, afinal, de onde sairão os recursos para capitalizar ou socorrer os bancos? Não haverá de ser dos Tesouros, quebrados e que, em última análise, estão afundando os bancos. Nesta segunda-feira, dava-se como inevitável que sairá do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Mas se o EFSF já é pequeno, menor ainda será se tiver mais funções. Outro candidato quase inevitável a salvador é o BCE.
Essa operação não reconstruirá a área do euro. Somente apagará focos de incêndio. Tentará impedir a perda de confiança entre bancos e a perda de confiança do público neles. E, como todas as intervenções dos bombeiros, quebrará louças, inutilizará móveis, romperá vidros e o telhado. Mas será o primeiro passo para impedir o desastre. Em seguida, será preciso recuperar as outras economias vulneráveis – tarefa nem um pouco clara. E, mais adiante, tudo terá de ser reconstruído, especialmente o euro, em novos e bem mais sólidos fundamentos.
Afora isso, é preciso ver como fica a Grécia. Caso imponha um calote de 50%, sua dívida cairá para 175 bilhões de euros (75% do PIB). Mas, tão cedo, não terá um único centavo de financiamento para dar cobertura a novos déficits, como aconteceu com a Argentina. E, sem condições de se endividar, as despesas públicas serão o que forem suas receitas. São a recessão e os cortes de despesas, provavelmente, ainda mais drásticos do que se pretende hoje e que tanto drama têm gerado.
CONFIRA
Em setembro, a corrida dos aplicadores não foi para a segurança? Então, o que explica a queda das cotações do ouro? Pois bem, a corrida para a segurança rumou ao castigado dólar. Não há o que colocar no lugar. Nem o ouro.
Devagar demais. Nesta segunda, no 8º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, reclamou da demora do Banco Central em intervir no mercado para derrubar as cotações do dólar. Logo ele, entre os que mais reivindicavam puxá-las para cima.
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