O Estado de S. Paulo - 22/09/2011 |
Nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), presidido por Ben Bernanke, confirmou as expectativas que vinham se firmando há algumas semanas e lançou a Operação Twist.
Trata-se da troca de títulos de curto prazo (de até 3 anos) que se encontram depositados na carteira do Fed pelos de longo prazo (de 6 a 30 anos). Essa operação será completada em junho de 2012 e alcançará um total de US$ 400 bilhões.
Como foi adiantado na coluna de terça-feira, dia 20, essa troca traz a vantagem de não elevar o balanço do Fed, ou seja, dispensa emissões de moeda e, correspondentemente, o aumento do volume de ativos em seu poder. Alguns poderiam pensar que essa não passa de troca de seis por meia dúzia. Mas não é bem isso. Por aumentar a procura de títulos de longo prazo, tenderá a reduzir os rendimentos (yields) desses ativos e, nessas condições, dará mais horizonte de custos para os investidores.
O resultado prático dessa operação é duvidoso. Muitos analistas dos Estados Unidos a reivindicaram não propriamente por contarem com efeitos milagrosos, mas por entenderem que alguma coisa o Fed tinha de fazer para passar a impressão de que enfrenta corajosamente a paradeira exasperante da economia americana e o drama de 14 milhões de desempregados (9,1% da força de trabalho).
Nesta quarta mesmo, a reação do mercado após o anúncio do Fed foi de frustração e desânimo, aparentemente por não conseguir rechaçar a percepção de que não será apenas essa colherada de xarope caseiro que irá curar a pneumonia americana.
A outra novidade anunciada pelo Fed foi a de que reinvestirá em novos créditos hipotecários o total obtido em resgates que receber dos títulos aplicados em hipotecas de sua carteira. Esses ativos integram o US$ 1,7 trilhão que o Fed se viu na contingência de comprar em 2008 e 2009, para apagar focos de incêndio da crise – a mesma iniciada com o estouro da bolha hipotecária dos subprime.
Essa decisão é o reconhecimento de que a estagnação da economia americana foi, em grande parte, causada pelo excessivo endividamento das famílias em financiamentos habitacionais, num ambiente agravado pela queda dos preços dos imóveis. Pressionado por essa carga e pelo medo do desemprego, o mutuário americano baixou seu consumo e parou de fazer dívidas. Em contrapartida, o produtor não contrata pessoal nem investe, temendo o encalhe de mercadoria.
A decisão do Fed de reaplicar mais recursos na recompra de hipotecas cria certa demanda por ativos imobiliários no mercado secundário e pode ajudar a reerguer os preços dos imóveis.
O Fed não estimou o volume de recursos envolvido na operação de recompra de ativos lastreados em hipotecas. Mas qualquer um sabe: créditos hipotecários têm prazos longos, de 10, 15, 20 anos. Não há indicações sobre o prazo médio de vencimento da carteira hipotecária em poder do Fed. E, no entanto, o vencimento dos atuais títulos é condição necessária para reaplicar recursos. De todo modo, as quantias envolvidas devem ser algo baixas. Afora isso, aliviar a carga dos mutuários americanos seria tarefa de natureza fiscal, que não cabe à autoridade monetária, mas, sim, ao Tesouro.
Enfim, é mais uma demonstração de que o Fed pode ser um bom bombeiro, mas não tem a solução para a reconstrução da economia.
CONFIRA
A cotação do dólar continua sua estilingada no câmbio interno. Com base no fechamento desta quarta-feira, acumulou uma alta de 15,8% somente em setembro (14 dias úteis).
CPMF neles. A União Europeia recomendou a instituição de um Imposto sobre Movimentação Financeira (IMF) para conter a especulação financeira e arrumar mais receitas para tesouros combalidos. Esse imposto só poderá ser cobrado em escala nacional, um sério obstáculo para sua adoção. Exportaria operações financeiras para países onde esse imposto não seria adotado.
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