- O Estado de S.Paulo
O avanço do PIB brasileiro, de 0,8% no segundo trimestre (em relação ao anterior), especialmente quando se compara com o 1,2% obtido no trimestre anterior, pode parecer insatisfatório e, mais ainda, ser interpretado como sinal de que a economia brasileira está mais para esfriamento do que para uma nova temporada de recuperação.
Há sim, uma notória desaceleração do crescimento - que tem tudo para fechar neste ano com um avanço do PIB em torno de 3,3%. É pouco quando comparado com os 7,5% obtidos ao longo de todo o ano passado. Mas pode ser interpretado como bom demais diante do que acontece no resto do mundo, principalmente nos países ricos, onde o ritmo da produção se encaminha para uma paradeira geral.
Ontem, o IBGE, organismo que faz o levantamento das Contas Nacionais, observou que, apesar de mais lento, o crescimento do PIB brasileiro é o terceiro entre 15 países pinçados um tanto aleatoriamente. Mas não dá para nutrir ilusões. Não é o Brasil que está melhor; é a situação do resto do mundo que piorou.
Enquanto a produção vai bem mais devagar, em especial, na indústria e na agropecuária, é o consumo que ainda puxa a criação de renda. Avançou 5,5% em relação ao segundo trimestre de 2010. Esse é o 31.º crescimento consecutivo no item Consumo das Famílias e é a locomotiva da economia. É o que explica o mercado de trabalho continuar aquecido e o desemprego, nos níveis mais baixos em muitos anos.
Das Contas Nacionais do segundo trimestre do ano, devem ser notadas duas outras melhorias. A primeira delas, a formação de poupança, um dos mais sérios pontos fracos da economia brasileira, que deixou o patamar dos 17,8% do PIB e passou a 18,1%. Foi um avanço abaixo do desejado, mas não dá para ignorá-lo. Em compensação, o investimento (Formação Bruta do Capital Fixo) teve um desempenho pior. Sua participação no PIB fora de 18,2% no primeiro trimestre e passou, agora, a 17,8% (veja o Confira).
Essa é uma das explicações estruturais para o PIB do Brasil avançar bem mais vagarosamente do que os dos asiáticos. O brasileiro investe relativamente pouco do que produz, menos de 18% da renda. Enquanto isso, a China investe perto de 50% do seu PIB e o padrão asiático oscila entre 30% e 35% do PIB.
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insistiu em que, em 2012, a economia brasileira tem potencial para crescer pelo menos 5%. Esse é também o número apontado na quarta-feira pelo Ministério do Planejamento, para efeito de elaboração do Orçamento da União. O Banco Central é menos otimista. Para este ano, espera contar com um crescimento do PIB em torno de 3,1%. E, para o ano que vem, os primeiros exercícios giram em torno de algo mais perto de 3,5% do que de 4,0%.
A experiência dos últimos anos demonstra que a economia brasileira não é capaz de um crescimento sustentável de mais de 4,5% ao ano. Para quebrar essa escrita será preciso consumir menos e investir muito mais. E, no entanto, não há nenhum projeto destinado a aumentar a poupança do brasileiro.
CONFIRA
Não melhora
O mercado de trabalho nos Estados Unidos não reage. Ontem, o Departamento do Trabalho apontou, para agosto, um desemprego de 9,1%, o mesmo do mês anterior.
Olhos voltados para o Fed
Cada vez em que um número decepcionante como esse é anunciado, cresce nos Estados Unidos a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) faça alguma coisa. Mas o quê?