domingo, agosto 28, 2011

Eles adiam o que a gente faz ALBERTO TAMER


O ESTADÃO - 28/08/11
Agora, não. Esperem mais um mês. Vamos voltar a conversar no fim de setembro para ver o que fazer. Se servir de consolo, posso adiantar que a reunião do Fed para tratar disso, marcada para apenas um dia, vai durar dois. Foi isso, em resumo, o que Bernanke disse no seu tão esperado pronunciamento de sexta-feira, na presença de presidentes dos bancos centrais.

Concentrou-se mais em criticar duramente os políticos (leia-se Congresso) que estão impedindo a recuperação.

Sim,e daí? Mud a alguma coisa? Vão dar mais espaço fiscal para o governo agir? Bernanke não acredita em recessão - e se acreditasse, não diria. Afirmou que a economia vai crescer no segundo semestre, mas, se forem tomadas agora as medidas fiscais e monetárias necessárias. Quais? Bem, vamos falar disso depois. Em setembro.

A espera adiada. A interpretação do mercado é que Bernanke vai esperar para ver como é que a economia americana fica. Nomes modia do seu pronunciamento, o Departamento do Comércio confirmou que o PIB do segundo trimestre não cresceu 1,3% como havia previsto, mas 1%. No ano, 07%. E isso um dia depois de ter anunciado que o nível de desemprego aumentou, beira os10%da força de trabalho e existem agora 25 milhões ociosos recebendo ajuda do governo e à espera por uma vaga há mais de seis meses.

Bernanke deu a entender no seu discurso que o Fed está mais ou menos conformado com essa situação, que deve durar ainda por algum tempo. Só que sem emprego não há consumo (aumentou apenas 0,4% no segundo trimestre) e sem consumo não há produção, crescimento, receita.

E agora, Obama. Os investidores esperam o pronunciamento de Obama marcado para o dia 5 de setembro, mais uma sexta-feira. Ele deve anunciar o novo plano de recuperação econômica do governo, mas a previsão do mercado é que pode ser de novo um "evento não evento".

Informa-se que ele deve anunciar redução e impostos para as empresas que criarem empregos e estímulos especiais para as que investirem em produção e exportação, que cresceu apena 3,1% no trimestre quando se previa 6%. É o comércio mundial parando.

No fundo, quer encaminhar para o setor produtivo da economia uma parte dos bilhões de dólares que continuam sendo aplicados maciçamente na compra de títulos do Tesouro. São recursos que financiam, sim, o governo, mas não geram empregos. Vai encontrar a resistência da desconfiança generalizada das empresas e dos consumidores, no governo e no Congresso. De novo, fica tudo para quando setembro vier...

Não esperamos nada. No Brasil, ninguém se desapontou porque ninguém esperava nada. Nem de Bernanke e muito menos, agora, do presidente Barack Obama,na próxima semana. E isso simplesmente porque eles ainda não sabem bem o que fazer.

Enquanto a economia lá fora está abandonada a si mesmo, como afirmou o economista-chefe da Street Global, Christopher Probyn, aqui vem obtendo em grande parte o apoio de que precisa. Enquanto se discute na Europa e nos Estados Unidos se devem iniciar uma política fiscal ou monetária, sem muitas condições de aplicar uma ou outra, aqui, as duas estão aplicadas com bons resultados.

Resumindo: enquanto eles falavam, o Brasil era acometido por uma "crise" de bom senso e realismo, não hoje, mas nos últimos 16 anos. Um realismo que se acentua agora, com novas medidas fiscais e monetárias.

A casa pode tremer quando os ventos fortes chegarem, mas não vão ruir como estão ruindo lá fora.

Com Bernanke, com Obama,que são prisioneiros dos interesses políticos mesquinhos do Congresso americano.

Acho que até aí estamos bem e temos sorte. Enquanto lá os deputados e senadores arrasam com o governo, no Brasil, os nossos apenas fazem greve pedindo mais favores para voltarem a votar. A desvantagem de eles terem apenas dois partidos e nós...

quantos mesmo? Perdi a conta, pois tem agora esse do nosso Kassab, um bom prefeito, mas....