- O Estado de S.Paulo
Somente dados negativos neste fim de semana. As bolsas tentaram reagir à forte queda de quinta-feira, oscilaram em torno de 0% no inicio da tarde de sexta, mas recuaram para menos 1,5% nos Estados Unidos, 1,2% no Brasil e mais de 2% na Europa. Mas é só isso que preocupa - afinal, agosto é um mês de férias nos Estados Unidos e na Europa, com pouco movimento.
O que preocupou mesmo os analistas neste fim de semana é que o cenário recessivo pode mudar. Não se espera nada na Eurozona, onde os ministros das Finanças da França e Alemanha vão se reunir na terça-feira, e muito menos dos Estados Unidos, na revolução solitária de Barack Obama contra o Congresso. Um indício é que pela primeira vez em 60 anos o rendimento dos títulos do Tesouro americano de 10 anos caíram para menos de 2% num mercado fortemente comprador. Aumentou a demanda por esses papéis mais seguros, até mesmo pelo Brasil. O Banco Central informou nesta sexta-feira que 81,8% das aplicações as reservas estão em dólares, principalmente títulos dos Estados Unidos e do Canadá.
Caminhos da recessão. Para Bill Cross, do fundo Pimco, que administra ativos da ordem de US$ 1,2 trilhão, isso mostra que é alto o risco de recessão. "Os Estados Unidos não têm muitas opções políticas, fiscais e monetárias. A economia vai continuar desacelerando." Ele reflete o pensamento da maioria dos analistas para os quais não se pode esperar nada nas próximas semanas nos Estados Unidos e na Eurozona. Não há agora um único economista ou instituição que não esteja revendo o crescimento do PIB mundial para menos de 4%. As evidências estão ai, com a zona do euro e os Estados Unidos vacilando em torno de 0,1%.
O Brasil cresce menos e aguenta? Pode aguentar sim, porque está preparado, mas a desaceleração da atividade econômica nas últimas semanas mostra que seria prudente evitar posições extremamente otimistas. A presidente afirmou na sexta-feira que "a crise é lá fora," o Brasil vai bem, mas seria prudente retomar o pronunciamento anterior, como "não estamos imunes (à crise), mas estamos preparados."
Estamos preparados, mas vamos crescer menos. Essa é a realidade que os últimos indicadores de atividade econômica no País revelam.
Os analistas do mercado financeiro e até mesmo o próprio Banco Central já admitem um PIB de 3,9%. Alguns falam em 3,7% e o cauteloso UBS prevê apenas 3,1% este ano. Ninguém mais, nem o Ministério da Fazenda, se aventura a falar no crescimento de 4,5% que se previa no início do ano.
Por onde a crise entra. Por enquanto, ela ainda não entrou. Apenas ameaça. Os canais de contaminação - mercados financeiro e comercial - estão sendo estreitados pela ação do BC e das empresas nacionais, que continuam fazendo captações externas apesar (ou talvez por causa) da crise. Elas estão aproveitando credibilidade do Brasil e juros baixos no mercado internacional.
O saldo líquido no segmento financeiro neste mês, até agora, é de US$ 940 milhões. Os dólares continuam entrando principalmente via captações e investimentos externos. Há na verdade duas "filas" nesse mercado. Uma de empresas do Brasil captando no exterior, outra de investidores externos que estão comprando títulos do Tesouro nacional com grande rendimento.
Essa é a diferença marcante entre o Brasil, com juro real (descontada a inflação) de 6% e rendimento negativos nos Estados Unidos e zona do euro, onde não há espaço para recuar. Nem fiscal, por causa da divida, nem monetário.
Mas há crise. Sim, não é apenas lá fora. Ela repercute também aqui, no Brasil. A indústria está parando, o nível de emprego ainda é bom, mas recua, vai haver mais pressões inflacionárias no segundo semestre apesar da produção agrícola recorde e queda dos preços das commodities.
O Brasil vai crescer menos, sim, talvez 3,5%, mas os indicadores econômicos sinalizam que, a manter-se a atual politica monetária e fiscal, tem condições de evitar o espectro da recessão que ameaça o mundo.