O GLOBO - 28/07/11
O PMDB está incomodado com as notícias de que os ministérios ocupados pelo partido não serão investigados porque o governo precisa do apoio dos peemedebistas para garantir a governabilidade. Em vez de se envaidecer com o que poderia ser o sinal de sua força política, o PMDB entende que, ao contrário, essa percepção refletiria uma fraqueza institucional que lhe é prejudicial.
O vice-presidente da República, Michel Temer, que acumula a função com a presidência de fato do PMDB, chegou a esboçar uma nota pedindo que os órgãos fiscalizadores do governo revelem se existe alguma suspeita de má conduta de algum indicado pelo PMDB nos ministérios e em órgãos públicos.
Seria uma exigência que poderia parecer uma confrontação, e essa foi a razão oficial para que a nota tenha sido abortada.
Mas, na verdade, o que as lideranças do PMDB estão discutindo é qual a melhor maneira de reagir a essa percepção generalizada de que o PMDB só não é escrutinado pelo governo porque é muito forte e indispensável para o apoio do governo no Congresso.
O que embute a ideia de que, se fiscalizarem os órgãos dirigidos pelo PMDB, encontrarão as mesmas falcatruas ocorridas no Ministério dos Transportes.
Há na verdade uma ideia de setores do governo de intervir em Furnas Centrais Elétricas, órgão do Ministério das Minas e Energia sob o controle do PMDB, mas ainda não houve clima político que permita essa atitude.
De qualquer maneira, é interessante que o PMDB tenha essa reação, é um bom sinal. Nenhum partido quer ser visto como blindado por questões políticas, todos querem ser vistos como partidos corretos. O mais complicado é agir com correção.
Mas esse pode ser um bom efeito colateral da faxina que a presidente Dilma empreende no Ministério dos Transportes. Se todo mundo ficar com essa preocupação, pode ser que melhore a situação.
Blindados ou não, partidos da coligação governamental terão que enfrentar uma nova situação, pois é previsível que novas denúncias surjam em diversas áreas, não apenas porque é provável que haja outros focos de corrupção no governo, mas porque a guerra interna está aberta.
A disputa dentro do governo prossegue, e, assim como pegaram o PR, os dirigentes desse partido devem também estar levantando dossiês contra outros partidos.
PT e PMDB continuam na disputa pelo espaço de poder, e essa guerra de dossiês, uma distorção de nossa democracia, tende a continuar enquanto as relações políticas estiverem pautadas nos termos atuais, mais pelo fisiologismo do que por projetos de governo.
O importante é saber como a presidente se comportará diante de novas denúncias, especialmente se elas surgirem em setores controlados por partidos políticos fundamentais no apoio legislativo.
Em agosto do ano passado o economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp, teve uma reunião com o ministro Guido Mantega para tentar convencê-lo de que somente com a taxação da especulação com o dólar futuro a valorização do real seria contida.
A medida demorou a ser adotada porque a Bolsa de Mercadorias e Futuro (BMF) e a Federação dos Bancos (Febraban) conseguiram evitá-la esse tempo todo, com a alegação principal de que poderia haver uma crise no mercado financeiro.
A tese da Fiesp é que a entrada de investimento direto no país, que tem batido recordes, não justificaria por si só a valorização do real de tal magnitude, já que o déficit de conta corrente - serviços, turismo - quase equilibraria a balança.
O turismo, por sinal, também tem batido recordes históricos de gastos de brasileiros no exterior.
O volume em jogo no mercado futuro é que seria o responsável principal pela especulação que leva o dólar a se derreter, pois a legislação brasileira permitia que os especuladores jogassem ao mesmo tempo nas duas pontas, com a valorização do real e a alta dos juros.
As medidas adotadas ontem pelo Ministério da Fazenda têm o objetivo de aumentar o risco e reduzir o lucro dos operadores do mercado futuro de dólar.
Não é a bala de prata que resolverá a questão cambial, mas é um passo importante.
Na coluna de ontem houve um pequeno empastelamento que acabou alterando o sentido de uma frase.
O título da palestra do historiador Boris Fausto na Academia Brasileira de Letras é "A flexibilização da ética".
A frase seguinte tinha a ver com outro parágrafo, onde estavam listadas algumas das razões específicas do processo brasileiro citadas por Fausto, valendo-se de um trabalho do historiador e acadêmico José Murilo de Carvalho, para a crise ética que vivemos, como lideranças políticas vindas da ditadura militar e o presidencialismo de coalizão.
Para os leitores mais jovens, e os que não são acostumados a termos técnicos do jornalismo, especialmente os anacrônicos, empastelamentos eram fenômenos comuns antigamente, quando comecei a trabalhar em jornal, no tempo do linotipo, mas como não sei definir, nesses tempos digitais, o que aconteceu, valho-me do termo antigo mesmo.
Refere-se a "misturar ou apresentar em desordem os tipos, títulos, linhas de composição, na montagem ou paginação", segundo o Dicionário Houaiss.