FOLHA DE SP - 19/07/11
Qualquer solução para a falência do Estado grego será dolorosa e terá efeitos ruins sobre as finanças do mundo. Mas vários estudiosos sensatos do assunto indicam saídas que podem evitar uma catástrofe como a de 2008, quando partes do sistema financeiro americano começaram a explodir em série.
No entanto, várias autoridades europeias disputam um cabo de guerra sobre as moribundas finanças da eurozona. É uma querela quase tão louca quanto a que opõe republicanos e democratas sobre a dívida do governo americano.
Note-se de passagem que a querela nos Estados Unidos é de certo modo mais demente, pois não há problema algum de solvência ou liquidez a afetar o governo.
Ontem mesmo, dia de paniquito nos mercados do mundo e de novo impasse nas negociações entre Barack Obama e republicanos, os investidores compravam títulos da dívida americana. Os Estados Unidos podem se financiar pagando 2,9% ao ano em títulos de dez anos.
O impasse leva os juros da dívida italiana e espanhola à lua. Ontem, o preço que Itália e Espanha teriam de pagar para tomar empréstimos voltou ao nível tido como crítico -aí ficando, os dois países entram numa situação greco-portuguesa.
Para piorar, sabe-se agora que bancos britânicos, espanhóis, italianos e ao menos um grande francês iriam à breca caso tivessem de registrar perdas da desvalorização terminal dos títulos da dívida da Itália, da Espanha etc.
Na Europa, a disputa é encabeçada, por um lado, pelo Banco Central Europeu (BCE), e, por outro, pelo governo da Alemanha. O governo alemão quer, na prática, que os credores privados gregos deixem de cobrar um pedaço da dívida.
A premiê Angela Merkel não quer que dinheiro de impostos apenas banque o rombo da Grécia. O BCE diz que o calote, por miudinho que seja, transformará em lixo os papéis da dívida grega, elevará os juros para Itália e Espanha (levando esses países à breca) e provocará onda de quebras bancárias e coisa pior.
Quase mais ninguém sério acredita que a solução passe por "austeridade" (arrochando o país, a dívida seria paga) e que a dívida grega será toda paga, ideias estúpidas defendidas mesmo agora pelo BCE e até outro dia pelos ministros das Finanças da Europa, as quais só ajudaram a agravar a situação.
Qual alternativa sobra? Várias boas e experientes cabeças econômicas de EUA e Europa sugerem que a União Europeia terá de assumir a dívida grega e reemprestar dinheiro a juros baratos ao país.
Trata-se quase o início de uma união fiscal (isto é, um governo europeu com dinheiro de impostos para ajudar Estados encrencados). Os países mais ricos, Alemanha à frente, não gostam da ideia.
A seguir, dizem entendidos mais sensatos, seria possível pensar em estratégias de reduzir a dívida grega e mandar parte da conta para os credores privados -sem que se permita, claro, a quebra de um grande banco, como nos EUA de 2008.
O calote grego é tão favas contadas que até o lobby da banca mundial, o Institute of International Finance, negocia faz duas semanas os termos da rendição condicional.
Nos EUA, há uma disputa ideológica demencial louca. Na Europa, a loucura política suicida nem ousa dizer o seu nome.