Folha
Nos casos Strauss-Kahn e "News of the World", é certo não haver inocentes em redações e direções; difícil é saber onde recai maior a responsabilidade
A CONFIABILIDADE INFORMATIVA de um jornal depende da determinação de ser confiável, mas a determinação superior depende de cada repórter (age como repórter todo o que, em qualquer modalidade de publicação do seu trabalho, transmite informações jornalísticas).
Também por isso, e não só para a melhor qualidade da edição, os ocupantes de cargos dirigentes devem ser bem informados por si mesmos.
Tem lógica, embora muitas vezes não faça justiça, a responsabilização do jornal pelo que foi de responsabilidade do respectivo repórter ou redator: a relação básica do leitor é com o jornal, cujas particularidades internas lhe são desconhecidas.
Conjugam-se as responsabilidades das duas partes quando se dá a repetição de informações precárias ou inverdadeiras, pelos mesmos jornalistas. Tal ocorrência é comum na imprensa. Dela fazem parte os casos de Dominique Strauss-Kahn, o ex-presidente do FMI acusado de violência sexual a uma camareira de hotel, e o das escutas telefônicas clandestinas feitas pelo jornal "News of the World". Ambos os casos, porém, em categoria especial da ocorrência costumeira.
Os dirigentes da imprensa americana, e por seu intermédio a própria imprensa americana como instituição, cometeram crimes variados na redução do seu jornalismo a uma parcialidade sensacionalista, de fins tanto políticos como de vantagens vulgares.
Uma evidência é bastante para comprová-lo: o jornalismo americano adotou a versão da camareira sem se interessar pelo dever primário, e compulsório nos Estados Unidos, de logo verificar quem e que tipo de pessoa fazia a acusação.
Foram dias de massacre e cadeia de Strauss-Kahn, à parte a culpa ou inocência que tenha, até que um pequeno indício colhido pela polícia forçasse o olhar jornalístico para a acusadora. Com o resultado conhecido.
Não por acaso, Strauss-Kahn era possível candidato presidencial pelo Partido Socialista, cujo simples nome eriça a hostilidade do "New York Times" e de tudo o que vem depois dele nos EUA; candidato à Presidência da França, país alvo da idiossincrasia americana; e indutor de uma política do FMI mais compreensiva com os países em desenvolvimento e vista como contrária aos EUA. Diante desta figura, nada distingue as responsabilidades das redações e dos dirigentes.
Na Inglaterra, o magnata dos meios de comunicação Rupert Murdoch pediu desculpas, contrito, pela proliferação de grampos telefônicos por jornalistas do "News of the World", um dos seus jornais. Ao Parlamento, além de novas desculpas, disse, e foi repetido pelo filho James, que desconhecia os métodos ilícitos de sua redação.
Rupert e James Murdoch são, no entanto, tão responsáveis pelas escutas ilegais quanto quem autorizou, quem aplicou e quem se valeu das gravações.
O caso atual é a culminância, em escândalo, mas não em gravidade, dos anos de abusos antiéticos e ilícitos do "News of the World". Tantos foram os casos a ecoar nos níveis de direção da International News dos Murdoch, que seria impossível desconhecerem os usos naquele jornal.
Jamais tomaram providências saneadoras. Nem lá nem em alguma outra das suas empresas de comunicação, cujos padrões em imprensa, em TV e em rádio voltam-se todos e permanentemente para baixo. Na violação do jornalismo, na política (em TV, a Fox News, transmitida a cabo no Brasil, é exemplo definitivo) e no desserviço à opinião pública dos países onde haja empresa Murdoch.
Nos episódios Strauss-Kahn e "News of the World", é certo não haver inocentes nas redações, nas direções e nos proprietários. Difícil é saber onde recai a maior responsabilidade. E não será pelos tribunais que se chegará a sabê-lo: caso haja processos e julgamentos, não há dúvida de que as sentenças, como as empresas de comunicação do admirado magnata, vão destinar-se ao nível mais baixo.