quarta-feira, maio 25, 2011

Na corda bamba MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/05/11
O socorro à Grécia não funcionou: um ano depois de receber 110 bilhões da União Europeia e do FMI, o país precisará de mais dinheiro ou dará o calote. Os juros cobrados dos gregos são insustentáveis, maiores do que antes da ajuda. Na Espanha, a crise fez o partido socialista sofrer a maior derrota nas urnas em 30 anos. A Europa caminha na corda bamba e agora a Itália está sob risco de rebaixamento de rating.

Entre janeiro de 2012 e junho de 2013, a Grécia tem 70 bilhões em dívida para rolar. Isso representa 30% do seu PIB. Sem ajuda, terá que ir a mercado fazer empréstimos. O problema é que os juros cobrados dos gregos estão em níveis recordes (vejam no gráfico), maiores do que antes do socorro de 110 bi em maio de 2010. O CDS grego passou de 621 pontos para 1321 pontos, uma alta de 113% no período. Os números mostram que a estratégia de empurrar o problema com a barriga não está dando certo. O objetivo era tirar a Grécia do mercado para que ela pudesse fazer reformas e reduzir a dívida pública. Assim, ela voltaria a captar recursos em condições melhores. Mas a dívida está aumentando e deve bater 160% do PIB em 2013. O país não cumpriu o que prometeu na redução do déficit de 2010. Era para ter reduzido a 8,1%, mas só chegou a 10,5%. Isso quer dizer que também não cumprirá a meta de 7,6% para este ano porque o esforço terá que ser ainda maior. O baixo crescimento deixa tudo mais difícil porque enfraquece a arrecadação. A Zona do Euro também traz dificuldades: impede o país de desvalorizar a moeda e tira do banco central grego as decisões de política monetária. A situação ficou mais complicada depois que o Banco Central Europeu (BCE) subiu a taxa de juros. O país enfrenta enorme fuga de capitais dos próprios gregos para outros países.

Politicamente, a Europa está divida. De um lado, o BCE, a França e demais países com problemas pressionam por um novo socorro. De outro, Alemanha e países mais ricos do norte do continente defendem a participação do setor privado na reestruturação da dívida grega. Querem dividir a conta com os bancos. O temor do BCE é que isso traga de volta a crise sistêmica, porque a renegociação da dívida afetaria o balanço dos bancos, ressuscitando os mesmos riscos da crise de 2008. O receio da Alemanha é que um novo aporte crie a sensação de que sempre os governos socorrerão países com problemas. Há ainda o desgaste político porque a medida significa dividir a conta com todos os contribuintes europeus. O impasse ficou agravado com a escândalo do ex-diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss Kahn, porque ele vinha sendo fundamental em aparar essas arestas. Sua saída veio no pior momento.

Enquanto isso, a situação se agrava: a Fitch rebaixou novamente o rating da Grécia e a S&P disse que a Itália está sob risco de rebaixamento. A Zona do Euro está virando um bloco disforme, com países ricos, de um lado, e caloteiros em potencial, de outro. Enquanto a Alemanha vai a mercado vender títulos pagando juros de 1,8%, os gregos pagam 24,8%; os irlandeses, 10%; os portugueses, 9%.

Espanha e Itália, por enquanto, estão blindadas, mas a possibilidade de contágio em caso de calote grego é grande. Os dois países têm muita dívida a rolar e em caso de reestruturação o mau humor seria generalizado. Além disso, a renegociação da dívida implicaria em perda para os bancos, e como a crise americana mostrou todo o sistema está interligado. Matéria do jornal espanhol "Cinco Dias" mostrou que 758 bancos e instituições financeiras da Europa deixaram de existir nos últimos quatro anos. O sistema bancário europeu já tem seus próprios problemas.

A crise também tem desdobramentos políticos. No final de semana, o partido socialista do primeiro-ministro José Zapatero foi derrotado nas eleições regionais da Espanha. Isso aumenta a chance de mudança de governo nas eleições gerais. Grécia, Inglaterra, Holanda, Irlanda e Hungria já tiveram troca de governo. E a vitória da oposição quase sempre tem sido acompanhada de revisão de dados referentes a déficits, revelando números piores.

A região entrou em turbulência em 2008 e está longe de sair dela. A crise decidirá o destino da união monetária e da própria existência do euro. Vários fantasmas continuam rondando a Europa.