sábado, maio 21, 2011

Decisões paulistas MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 21/05/11

A divisão interna do PSDB está impedindo que o partido dispute com chances a prefeitura de São Paulo, pela primeira vez em muitos anos. Mesmo tendo chegado apenas uma vez ao poder, com José Serra em 2004, o partido, que assim como o PT tem sua base no estado, sempre disputou a prefeitura com seus nomes mais destacados, como foi o caso de José Serra em 1988, 1996 e 2004, e de Geraldo Alckmin em 2000 e 2008.

Anteriormente, ainda no PMDB, Mario Covas fora prefeito em 1983, e Fernando Henrique Cardoso fora candidato à prefeitura em 1986, tendo perdido para Jânio Quadros por pouco mais de 1% dos votos.

Como se vê, todas as principais lideranças tucanas passaram pelo teste da disputa da prefeitura paulistana antes de chegar ao governo estadual ou, no caso de FH, à Presidência da República.

O candidato natural neste momento é o ex-governador e ex-prefeito José Serra, mas dificilmente ele aceitará a tarefa, pois essa decisão representaria abandonar o sonho de ainda disputar a Presidência da República em 2014.

Se elegendo prefeito paulistano em 2012, seria impossível a Serra repetir a manobra de renunciar ao cargo para disputar a Presidência um ano depois, como fez em 2006 para ser governador de São Paulo.

Serra só aceitará disputar a prefeitura se se convencer de que não terá a mínima chance de disputar a Presidência, ou pelo PSDB ou, numa manobra mais radical, pelo PSD, que o seu aliado Gilberto Kassab está organizando.

O mais provável, neste momento, é que ele permaneça dentro do PSDB tentando marcar seu espaço político, jogando em eventuais erros do senador Aécio Neves que possam inviabilizar sua candidatura, que parece ser a natural dentro do partido.

Serra pode jogar com o tempo, pois tem a chance de decidir encerrar sua carreira política como senador, na eleição de 2014, e não precisa antecipar uma decisão em 2012.

Se fosse o candidato a prefeito de São Paulo, Serra uniria o PSDB paulista e teria o apoio do partido de Kassab, tornando-se o favorito na disputa, contra possivelmente um candidato do PT - a senadora Marta Suplicy ou o ministro Aloizio Mercadante - e o candidato do PMDB, o deputado federal Gabriel Chalita, que está de saída do PSB.

Para enfrentar Serra, é até possível que PT e PMDB cheguem a um acordo, fazendo uma composição partidária. O ex-presidente Lula chegou a pedir ao presidente do PMDB que não lançasse a candidatura de Chalita, para permitir um acordo com o PT.

O PMDB, no entanto, considera que, em caso de uma composição, o cabeça de chapa tem que ser Chalita, com o PT dando a vice.

Se José Serra não aceitar ser candidato, aí mesmo é que os dois partidos apresentarão chapas diferentes, com acordo de apoio no segundo turno, pois as chances de vencer aumentam.

O PSDB não tem candidato alternativo forte para substituir Serra, e qualquer um da estrutura regional poderá surgir desse impasse. O deputado federal do DEM Rodrigo Garcia, que assumiu uma secretaria no governo Alckmin recentemente, pode ser o escolhido.

Essa indefinição fortalece a possibilidade de que o verdadeiro candidato do governador Geraldo Alckmin seja Chalita, que mesmo tendo saído do PSDB continua muito ligado ao governador tucano, que o considera "um predestinado".

Chalita, aliás, deixou o PSB por não ter garantias de que seria candidato à prefeitura.

Já o prefeito Gilberto Kassab tem várias alternativas para a disputa, embora seu partido não tenha tempo de televisão e precise fazer alianças políticas para suprir essa deficiência.

Por isso mesmo o ex-deputado Eduardo Jorge, do PV, secretário municipal de Meio Ambiente, é uma dessas alternativas, sendo a outra o vice-governador Guilherme Afif, que deixou o DEM para seguir Kassab no PSD.

Esse quadro partidário confuso e indefinido por parte dos que detêm o poder no estado - PSDB e futuro PSD - começou a se delinear na disputa da prefeitura em 2008, quando o ex-governador Alckmin teimou em disputar a eleição contra Kassab, então do DEM, que havia assumido o cargo com a saída de Serra para disputar e vencer o governo de São Paulo.

Kassab, que já detinha a máquina municipal, contou com o apoio da máquina estadual e derrotou Alckmin, que era o candidato oficial do PSDB, mas não tinha o apoio do governador.

Mesmo fenômeno que pode acontecer na próxima eleição, com o governador Geraldo Alckmin dando um apoio "branco" a Gabriel Chalita do PMDB, não por divisão política, mas por não haver um candidato forte nas hostes do PSDB.

Mesmo tendo sido convidado por Serra para fazer parte de seu secretariado depois da derrota, o grupo de Alckmin e o de Serra dentro do governo paulista nunca mais se entenderam, embora entre os dois a relação política esteja normalizada.

Essa relação, porém, limita-se à compreensão da importância política de um e outro, e não se espalha entre os dois grupos, que vivem às turras.

Essa disputa abre condições de o PT reassumir a prefeitura da capital paulista, que já comandou em 1989, com Luiza Erundina, e em 2001, com a atual senadora Marta Suplicy.

Ganhar a prefeitura de São Paulo é parte de um plano estratégico do PT coordenado pelo ex-presidente Lula para tomar o comando político do PSDB, que está no poder estadual há 16 anos seguidos, tendo iniciado sua hegemonia em 1995 com a eleição de Covas.

A reorganização da direção partidária está se encaminhando para definir quem tem mais força política, com o grupo do senador Aécio Neves empenhado em manter suas posições: deve reeleger o deputado Sérgio Guerra na presidência e pretende manter na secretária-geral o deputado mineiro Rodrigo Castro. O grupo serrista está lançando a candidatura do ex-governador Alberto Goldman.

E até mesmo a direção do Instituto Teotonio Vilela entrou na disputa, com o ex-senador Tasso Jereissati tendo o apoio dos senadores do partido com exceção de Aloysio Nunes Ferreira, que apoia José Serra.

A situação do PSDB no estado continua sendo bastante forte devido ao controle da máquina pelo grupo do governador Geraldo Alckmin, que é o favorito para se reeleger em 2014, mas a disputa da prefeitura e a da direção nacional do partido devem explicitar as fraquezas tucanas, que, se não forem superadas, certamente retirarão do partido a possibilidade de disputar a sucessão de Dilma com algum sucesso.