sábado, abril 02, 2011

A VIDA FÁCIL DOS BUROCRATAS DO HUMANISMO Guilherme Fiuza

Não conheço pessoalmente o jornalista Guilherme Fiuza, só de texto. Já
concordei muitas vezes com o que escreveu e discordei outras tantas.
Inegável é que tem um texto de primeira linha. Saber escrever deveria
ser uma obrigação dos jornalistas. Mas quê… O que há de analfabeto de
bom coração na profissão é uma coisa espantosa! Os dias andam tão
miseráveis que basta o sujeito não meter uma vírgula alcoviteira entre
o sujeito e seu verbo, e eu já estou dando "Bom Dia!", já chamo de meu
semelhante, independentemente do que pense. Aliás, costumo prezar a
inteligência do outro, não a concordância com o meu ponto de vista.
Sou tolerante. Mas sigamos.

Num excelente texto, para não variar, Fiuza escreve sobre o caso
Bolsonaro em sua coluna quinzenal na "Época". Os petralhas, inclusive
os da sua revista, deixem o homem em paz! A gente não é amigo, a gente
não conspira, a gente não passa as madrugadas tentando depor o governo
popular, a gente nem se conhece. Segue o seu texto, intitulado
"Bolsonaro e o fuzilamento da direita", o melhor que se escreveu sobre
o assunto até agora.

*
NO BRASIL DE HOJE, COMO SE SABE, NINGUÉM é de direita. Ou melhor: a
direita existe, mas é uma espécie de sujeito oculto, que só aparece
para justificar os heróicos discursos da esquerda - eterna vítima
dela. Lula governou oito anos, promoveu seus companheiros aos mais
altos cargos e salários estatais, fez sua sucessora, e a esquerda
continua oprimida pela elite burguesa. É de dar pena. Nessa doce
ditadura dos coitados, é preciso cuidado com o que se fala. Os
coitados são muito suscetíveis. Foi assim que o deputado federal Jair
Bolsonaro foi parar no paredão.

Bolsonaro é filiado ao Partido Progressista, mas é uma espécie de
reacionário assumido. Defende abertamente as bandeiras da direita -
que, como dito acima, não existem mais. Portanto, Bolsonaro não
existe. Mas fala - e esse é seu grande crime. Depois da polêmica
entrevista do deputado ao CQC, da TV Bandeirantes, o líder do
programa, Marcelo Tas, recebeu e-mails de telespectadores revoltados.
Parte deles protestava contra o próprio Tas, por ter dado voz a Jair
Bolsonaro. Na Constituição dos politicamente corretos - assim como nas
militares -, liberdade de expressão tem limite.

A grande barbaridade dita por Bolsonaro no CQC, em resposta à cantora
Preta Gil, foi que um filho seu não se casaria com uma negra, por não
ser promíscuo. Uma declaração tão absurda que o próprio Marcelo Tas
cogitou, em seguida, que o deputado não tivesse entendido a pergunta.
Foi exatamente o que Bolsonaro afirmou no dia seguinte. Estava falando
sobre homossexualismo e não percebeu que a questão era sobre racismo:
"A resposta não bate com a pergunta", disse o deputado.

Se Jair Bolsonaro é ou não é racista, não é essa polêmica que vai
esclarecer. No CQC, pelo menos, ele não disparou deliberadamente
contra os negros. Estava falando de promiscuidade, porque seu alvo era
o homossexualismo. O conceito do deputado sobre os gays é, como a
maioria de seus conceitos, reacionário. A pergunta é: por que ele não
tem o direito de expressá-lo?

Bolsonaro nem sequer pregou a intolerância aos gays. Disse inclusive
que eles são respeitados nas Forças Armadas. O que fez foi relacionar
o homossexualismo aos "maus costumes", dizendo que filhos com "boa
educação" não se tornam gays. É um ponto de vista preconceituoso, além
de tacanho, mas é o que ele pensa. Seria saudável que os gays, com seu
humor crítico e habitualmente ferino, fossem proibidos de fustigar a
truculência dos militares? A entrevista também passou pelo tema das
cotas raciais. Jair Bolsonaro declarou o seguinte: "Eu não entraria
num avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um
médico cotista".

É a resposta de um reacionário, um dinossauro da direita, prescrito
pelas modernas ideologias progressistas e abominado por sua lealdade
ao regime militar. Mas é uma boa resposta. E agora? Agora o Brasil
bonzinho vai fazer o de sempre: passar ao largo do debate e
choramingar contra a direita. Eis um caminho de risco zero. Processar
Bolsonaro, o vilão de plantão, é vida fácil para os burocratas do
humanismo. No reinado do filho do Brasil, até o nosso Delúbio, com a
boca na botija do mensalão, gritou que aquilo era uma conspiração da
direita contra o governo popular. O filão é inesgotável.

Cutucar o conservadorismo destrambelhado de Bolsonaro é atração
garantida. Mas censurá-lo em seguida não fica bem. Parece até coisa
dos antepassados políticos dele. A metralhadora giratória do capitão
dispara absurdos, mas não está calibrada para fazer média com as
minorias - e isso é raro hoje em dia. De mais a mais, se manifestantes
negros podem tentar barrar um bloco carnavalesco que homenageia
Monteiro Lobato, por que um deputado de direita não pode ser contra o
orgulho gay e as cotas raciais? Vai ver o preconceito também virou
monopólio da esquerda.

Por Reinaldo Azevedo CLICAR PARA LER ORIGINAL