segunda-feira, abril 25, 2011

Nada de novo - Rubem de Azevedo Lima

Correio Braziliense - 25/04/2011

Este ano, o Pulitzer não premiou o furo jornalístico. Também pudera:
nos EUA, desencavaram uma entrevista com Charles Manson, aquele que
mandou quatro de seus discípulos no crime matarem a atriz Sharon Tate,
casada com Roman Polanski e grávida de oito meses, em 1969.

O advogado de Manson, o italiano Giovani Di Stefano, defendeu também a
causa de Saddam Hussein, do Iraque, condenado à morte na forca.
Manson, o esperto, em prisão perpétua, se disse uma erva ruim que não
morre e que Obama é um "idiota e escravo de Wall Street".

No Brasil, no mesmo dia da entrevista de Manson, em 18 de abril,
deu-se a notícia de que o senador Aécio Neves, flagrado pela polícia
de trânsito, no Rio, ao sair, com a namorada, de uma boate e entrar em
seu carro, com a habilitação vencida, negou-se a fazer o teste do
bafômetro e contratou um motorista profissional para dirigir o carro.

Foi a bomba política do país na semana. Após seu recente discurso
feito no Senado, Aécio — digamos assim — vacilou, mas a Secretaria de
Trânsito, do Rio, não: logo deu nota à imprensa, pondo mais sal no
imbróglio.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, que se diz amigo de Aécio,
elogiou-o, fazendo o papel de bom moço. Aquele, que, no pleito em que
se reelegeu, decretou feriado desde sexta-feira, para os eleitores do
adversário, Fernando Gabeira, viajarem para as praias do Rio e não
votarem. A manobra, ignorada pela Justiça, deu certo e Gabeira perdeu.

Cabral, o governador oba-oba do ex-presidente Lula, pelo jeito acha
que Aécio, com isso, é carta fora do baralho na eleição presidencial
de 2014. Ele dá sinal de sentir-se como o malandro carioca que, nos
velhos tempos do século 20, vendeu bonde a um mineiro rústico.

Quem viu e ouviu Aécio falar no Senado, por mais de seis horas,
criticando o governo e respondendo a todos os apartes que lhe deram,
com firmeza, sempre com pertinência e alguma ironia, não devia fazer
dele julgamento como o que parece o de Cabral. Afinal, essa pode não
ser a estória do mineiro logrado, mas a do carioca otário e
pretensioso, que faz pouco da inteligência alheia.