FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11
Em entrevista, presidente confirma mudança para métodos alternativos de fazer política econômica
A INFLAÇÃO vai diminuir; a economia vai crescer com "certeza" entre 4,5% e 5% neste ano. Foi o que disse Dilma Rousseff em entrevista publicada ontem no jornal "Valor Econômico", entrevista no geral muito sensata e no estilo gerente-deixa-que-eu-chuto da presidente.
Dilma não anunciou nenhum grande novo plano. Nem pequeno. Mas ressaltou que vai adotar providências urgentes e de bom senso.
Por exemplo: 1) privatizar o que for possível e razoável de aeroportos e de estradas; 2) encaminhar o problema da previdência dos servidores; 3) dar um jeito na farra de importações daninhas patrocinadas por certos Estados (que fazem isso em troca de trocos fiscais e favores a comerciantes de importados baratos) que detona a indústria nacional. No mais, choveu no molhado.
Os trechos mais controversos da entrevista diziam respeito a crescimento e a inflação. Dilma deu novo chega para lá nos "analistas" econômicos do mercado e afins.
Reforçou o que seus economistas vêm dizendo, até mesmo os do Banco Central. Ou seja: 1) a alta de preços é em boa parte transitória (aumentos no início de ano de preços indexados ou monitorados; 2) é localizada (aumento de preços de commodities, comida, minérios, combustíveis); 3) não é preciso uma paulada nos juros a fim de conter preços; existem instrumentos que substituem a alta de juros.
Ficou subentendido que se pode levar a taxa de inflação de volta à meta (de 4,5%) num prazo mais longo do que os economistas-padrão consideram adequado.
Ficou subentendido ainda que Dilma não acredita em inflação. A presidente não parece acreditar que expectativas altistas de preços e estímulos à economia (salário, crédito e gasto público) em ambiente de oferta escassa (de trabalho e de unidades produtivas) chancelam uma alta contínua e mais ou menos geral de preços -isso é inflação.
A presidente ora parece acreditar, ressalte-se, em choques temporários e localizados de preços, que se dissipariam com um outro controle localizado e temporário. Um fator permanente de pressão nos preços seria o "fator inercial" (em parte devido à indexação). Mas Dilma não disse o que fazer a respeito, realmente um problema. Aliás, defendeu a indexação do salário mínimo.
Dilma disse que não é "pombo" nem "falcão", aves que no jargão de economistas servem de apelido a gente menos ou mais reativa à inflação. Brincando, disse-se uma arara.
A presidente reafirmou, pois, nova mudança no padrão de política econômica do petismo, que foi da "ortodoxia" marota (até 2006), passou ao desenvolvimentismo acidental (2007 a 2010) e agora abraça a desconstrução geral do consenso econômico conservador que durou dos anos 1980 até 2008.
Por mais que tal consenso tenha apanhado da realidade, e vexaminosamente, pode ser uma papagaiada jogar a criança fora com a água do banho. Seja qual for a "linha" do economista, é difícil acreditar em inflação menor quando crédito, salários e consumo crescem em ritmo muito superior ao do PIB.
Pode ser que os economistas de Dilma inventem um mix diferente e bem-sucedido de instrumentos de política econômica, o mix arara. Como sempre, a prova do pudim será comê-lo. Espera-se que não esteja estragado lá pelo início de 2012.