quarta-feira, março 16, 2011

Paul Krugman Fusão macroeconômica

O Estado de S. Paulo - 16/03/2011

A catástrofe nuclear no Japão pode acabar estimulando o crescimento
econômico global; lembremos que a Segunda Guerra Mundial pôs fim à
Grande Depressão


A vida e os negócios continuam; portanto, acho que temos que falar
sobre os impactos econômicos do pesadelo de Fukushima (a usina nuclear
que tem seus geradores sob risco de vazamento nuclear).

Alguns desses impactos envolvem uma paralisação das cadeias de
abastecimento: os chips japoneses e outros componentes são uma parte
importante da manufatura mundial - você realmente tem que pensar na
China, Coreia, Japão e outros como parte de um complexo manufatureiro
do Leste da Ásia - e não está clara ainda a envergadura dos danos
provocados.

Mas o que estou observando muito são preocupações sobre os impactos
financeiros. Com certeza, o Japão terá de despender centenas de
bilhões (de dólares, não ienes) para limitar os danos e recuperar o
país, mesmo com a queda de receita graças ao impacto econômico direto.
Assim, ele se tornará menos um país exportador de capital, talvez um
importador de capital, durante um determinado período. E isso, é a
continuação da história, levará a uma alta nas taxas de juro.

E o que ocorre? Em tempos normais, aumentos nas taxas de juro seriam
corretos. Mas não estamos em tempos normais.

Continuamos numa armadilha de liquidez, com juros de curto prazo
subindo acima de zero.

Como tentei explicar, há quase dois anos, uma maneira de refletir
sobre essa armadilha de liquidez é pensar numa situação em que o
montante que as pessoas economizariam se houvesse pleno emprego é
maior do que o montante que as empresas estariam dispostas a investir,
mesmo a uma taxa de juro zero. Assim, o que existe na verdade é uma
poupança desejada excessiva perdida por aí.

Portanto os empréstimos tomados pelo governo não precisam ser às
custas do investimento privado, levando a uma alta nas taxas de juro;
em vez disso, eles apenas mobilizam parte daquela poupança desejada,
mas não realizada.

E sim, isso significa que a catástrofe nuclear pode acabar se tornando
expansionista, se não para o Japão, mas pelo menos para o mundo como
um todo. Se isso parece loucura, bem, economia numa armadilha de
liquidez é isso - lembre-se, a Segunda Guerra Mundial pôs fim à Grande
Depressão.

Portanto, voltando ao Japão: estou aterrorizado com a possível perda
de vidas; nervoso com a possível paralisação da produção mundial. Mas
não estou, absolutamente, preocupado com o impacto das tomadas de
empréstimo pelo Japão nos mercados de títulos mundiais.