O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11
Lamentavelmente o último escândalo da estação não produziu nada que o País não tenha visto ou ouvido nos últimos anos.
Numa prova de que quem sai aos seus raramente degenera, a deputada Jaqueline Roriz, filha do ex-governador Joaquim Roriz, recorreu aos préstimos financeiros do pivô do penúltimo escândalo de corrupção política - que levou um governador (José Roberto Arruda) à prisão - e foi filmada recebendo o dinheiro.
Como sempre, vozes de indignação se levantaram pedindo a cassação do mandato e punição da deputada na Justiça. As defesas de praxe também foram providenciadas.
O partido de Jaqueline Roriz, o PMN, divulgou nota oficial para ressaltar a "boa índole" e a condição de "filha zelosa, esposa amantíssima" de sua filiada; acabou autorizando a conclusão de que a índole do partido deixa muito a desejar.
Seguindo o roteiro habitual nessas situações, o PSOL foi o primeiro a pedir a abertura de processo de cassação no Conselho de Ética. E aqui entra a diferença deste para casos anteriores: as investigações internas no Parlamento estão totalmente desmoralizadas.
Atualmente chega a soar esquisito falar em julgamentos éticos no ambiente do Congresso.
O flagrante exibido em vídeo pelo portal Estadão.com.br não deixa a menor dúvida quanto à ausência de decoro pessoal por parte da moça que na época ainda não tinha mandato de deputada federal.
É óbvio que essa filha diligente, esposa enamorada de excelente caráter, merece a cassação.
Mas a Câmara estará enrolada nas próprias pernas caso a deputada não tome a iniciativa de renunciar ao mandato.
Para livrar colegas de complicações não muito diferentes das que envolvem a filha de Roriz, o Conselho de Ética decidiu que atos anteriores ao mandato em curso não contam para efeito de decoro parlamentar.
Em contrapartida, o Congresso aprovou uma lei que leva em conta a vida pregressa de pretendentes a candidato como fator de elegibilidade. Com a Lei da Ficha Limpa, a população despertou para a importância de biografias e passou a pôr em xeque a legitimidade dos parlamentares donos de folhas corridas.
O Legislativo montou uma armadilha para si: criou um casuísmo que em tese o impede de cassar a deputada e ao mesmo tempo aprovou uma lei que expõe as mazelas de boa parte dos juízes.
Dúvida atroz. O governo divulgou que a presidente Dilma Rousseff vetou indicações do deputado Eduardo Cunha para cargos no governo. No entanto, a liderança desse mesmo governo na Câmara escolheu Cunha para negociar a aprovação das regras para obras com licitações especiais para a Olimpíada de 2016.
Fica, portanto, a questão: se Eduardo Cunha não serve como avalista de cargos por que serve para cuidar de licitações?
Olha o vexame. Ao que se anuncia a segurança do presidente Barack Obama na visita ao Brasil será composta por mais de 300 pessoas, além de helicóptero e dezenas de carros vindos dos Estados Unidos.
Quando Bill Clinton esteve aqui foi intensamente criticado por causa do forte esquema de segurança que o acompanhava desde Washington.
Na época houve significativa adesão local à tolice de enxergar nisso um sinal de afronta à soberania nacional. Segundo aqueles autores, os americanos ofendiam a honra nacional não apenas por causa do tamanho do aparato, mas também por relegarem ao segundo plano o uso de policiais brasileiros na segurança do presidente.
Depoimentos de moradores do morro da Mangueira qualificando o aparato presidencial como "totalmente desnecessário", eram exibidos na televisão como prova da natureza cordial da população.
Queira o bom senso que desta vez prevaleça o entendimento do óbvio: esquemas de segurança de chefes de Estado são da alçada de cada país e as respectivas circunstâncias, guardando zero com a soberania alheia.