sexta-feira, janeiro 21, 2011

Dilma, tragédia e Estado

16/01/2011 - 00h01

Folha de S Paulo

Há uma lição valiosa a ser aprendida da tragédia no Rio.

Qual o papel do Estado em um país pobre, mas em franco desenvolvimento? No Brasil?

Morreram ricos e pobres. Por causa das chuvas, e do Estado. No fundo, é isso.

Ricos procuram vistas agradáveis ou rurais por prazer. Ou para ganhar dinheiro com negócios. Os pobres estão lá para servi-los.

Vão morar onde? A quilômetros que os obriga à exaustão para ir e vir do trabalho? Preferem as encostas, perto dos patrões.

Mas é o Estado que permite estarem todos na zona de risco. Permite porque é omisso, balofo e cheio de atribuições.

Nos anos Lula e FHC, o peso do Estado sobre a sociedade cresceu quase 10 pontos percentuais. É muito. Mais de um terço do que o país produz hoje vai para o Estado em impostos.

Reclamamos de deslizamentos, aeroportos lotados, bueiros entupidos e enchentes, do trânsito e da vida.

A culpa, em grande parte, é do Estado.

Lula teve um papel preponderante ao deixar crescer o peso do Estado. Ao transferir grande parte do aumento dos impostos aos mais pobres, via Previdência e programas sociais.

Mas isso exauriu o Estado e seus recursos. Em resumo: foi bom, repartimos o bolo. Mas acabou.

Na semana passada, Dilma decidiu que, para colocar as contas públicas em ordem, economizará cortando investimentos. Em obras, estradas, saneamento, parafusos e no que mais for necessário.

Reconheceu de vez que o Estado chegou ao limite.

O que isso revela? Que nosso Estado, enorme e caro, é um anão em investimentos.

Era a opção brasileira desde 1988, quando a Constituição definiu como prioridade ajudar os desvalidos. Vem daí o estouro das contas da Previdência, os programas assistenciais e outras despesas sem contrapartida dos beneficiários.

É jogo jogado.

Hoje: o Brasil tem uma iniciativa privada enorme e ávida por dinheiro.

Esse é nosso potencial.

Antes de almejar construir aeroportos, estradas e correr atrás de tragédias como as do Rio, a prioridade do Estado deveria ser regular, orientar, trancar se necessário e fiscalizar o setor privado.

Empresários querem sempre mais e muito. Seus excessos são suas virtudes.

No Brasil, o Estado tem sido um péssimo maestro.

*

Pesquisa de 2010 da Confederação Nacional dos Transportes diz que só 32% dos 76 mil km de rodovias públicas do país foram considerados ótimos/bons no ano passado.

Entre as concessionadas para o setor privado (apesar de pedagiadas) foram considerados ótimos/bons 87% dos 14,5 mil km avaliados.

Lula permitiu que apenas uma dezena de rodovias pudesse ser administrada pela iniciativa privada. E só a partir de 2008