quarta-feira, setembro 22, 2010

As contas externas serão o maior problema em 2011 O Estado de S. Paulo Editorial

- 22/09/2010



O Banco Central (BC) está prevendo para este ano um déficit de US$ 49 bilhões nas transações correntes do balanço de pagamentos e, para o próximo ano, de US$ 60 bilhões. É provável que o déficit em 2010 seja maior (teria de ficar abaixo de US$ 1,55 bilhão, mensalmente). E, quanto a 2011, é necessário lembrar que a conta financeira - que até agora, com US$ 54,5 bilhões, cobriu largamente o déficit de US$ 31,1 bilhões até agosto - pode não compensar o déficit no próximo ano.

O déficit em transações correntes depende do resultado da balança comercial e da conta de serviços e renda, na qual predominam as remessas de lucros e dividendos. Para cobrir esse déficit, conta-se com a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) e com aplicações externas no mercado de ações e em renda fixa.

O resultado da balança comercial no próximo ano vai depender da taxa cambial, e é incerto o efeito da intervenção do Fundo Soberano e da conjuntura internacional, que deverá continuar pouco favorável, sobre o câmbio. As remessas de lucros e dividendos crescem com o estoque de capital estrangeiro. Nos oito primeiros meses do ano, somaram US$ 17,9 bilhões, mais do que o saldo líquido de IEDs (US$ 15,9 bilhões).

Por isso o BC está prevendo, com realismo, um déficit de US$ 60 bilhões. Menos realista, no entanto, é a previsão de que a conta de capital poderá cobrir o déficit das transações correntes. Isso nos leva a analisar como foi possível cobrir o déficit nos oito primeiros meses do ano.

A cobertura saudável se faz com os IEDs, que até agosto cobriram apenas 54,7% do déficit das transações correntes. Para o próximo ano o BC está prevendo uma entrada de IEDs de US$ 45 bilhões (33% a mais do que foi a previsão deste ano). A cobertura suplementar vem dos investimentos em carteira (ações e títulos de renda fixa), que até o final de agosto somaram US$ 34,9 bilhões e cuja previsão para 2011 é de US$ 36 bilhões. Trata-se de operações muito voláteis, que dependem essencialmente da taxa cambial, da remuneração das ações e dos juros oferecidos. Nada permite pensar que as vantagens oferecidas atualmente pelo Brasil, em termos de juros, continuarão. E tudo indica que teremos de liquidar grande parte dessas operações especulativas.

Por fim, há que acrescentar as amortizações de empréstimos de médio e de curto prazos, que somaram até agora US$ 20,7 bilhões e que o BC estima em US$ 30 bilhões no próximo ano - que nos parece uma subestimativa, levando em conta o aumento da dívida externa bruta.