O Globo - 24/08/2010
As campanhas de São Paulo e Minas Gerais, estados dominados pelo PSDB nos últimos anos, mas onde o PT tem forte presença política, são os campos de batalha onde se decide a possibilidade de a eleição presidencial terminar ou não no primeiro turno a favor da candidata oficial, Dilma Rousseff.
O presidente Lula acha que pode ganhar no primeiro turno, e por isso pretende voltar baterias para São Paulo para tentar alterar o resultado que favorece Geraldo Alckmin, o candidato tucano ao governo.
Ele tenta, com a nacionalização da campanha, atingir dois objetivos: encurtar a diferença entre Dilma e o adversário tucano, José Serra, no estado, e reverter a disputa estadual, hoje amplamente favorável ao PSDB.
Da mesma maneira que a imagem de Mercadante não está aproveitando o prestígio nacional do presidente Lula, que se reflete na candidata a presidente mas não na campanha para governador, também Serra não está se beneficiando do prestígio pessoal de ex-governador bem avaliado nem do de Alckmin no estado.
Tanto que Serra está fazendo a menor diferença até hoje que um candidato do PSDB consegue tirar em cima do PT em São Paulo.
A avaliação do comando petista é que, se a campanha estadual não for nacionalizada, Alckmin vence no primeiro turno.
Acham que Alckmin mordeu a isca colocando mais Serra em seu programa eleitoral.
Ao contrário, os tucanos consideram que o apoio de Alckmin tende a melhorar a vantagem que já têm em São Paulo.
O PT acha que há possibilidade de equilibrar mais no estado essa disputa nacional, e usar o prestígio de Lula para tentar reverter situação para o governo do estado.
Enquanto Alckmin falava sobre trem-bala, prometia rever os pedágios, tratava das questões da educação em São Paulo, parecia aos petistas imbatível.
No momento em que começou a tentar ajudar Serra criticando o governo federal, acreditam os petistas que se abriu uma nova possibilidade de tentar levar a eleição para o segundo turno.
Enquanto o debate entre os candidatos a governador estava se dando em torno da discussão do programa de governo ou imagem dos candidatos, a situação era mais favorável para Alckmin, nessa avaliação petista.
Na situação anterior, mesmo que Dilma ultrapassasse Serra no estado, Mercadante não ganharia de Alckmin; as duas eleições estão completamente separadas.
O PT tem pesquisas que demonstrariam que é possível equilibrar a situação em São Paulo na disputa a presidente.
Estão fazendo pesquisas em cidades do interior em que Alckmin derrotou Lula no primeiro turno de 2006, como Tupã, onde Lula teve 29% dos votos contra mais de 50% de Alckmin.
A pesquisa atual está dando 37% para Serra e 35% para Dilma. O que demonstraria que existe espaço na campanha para encurtar a distância entre Dilma e Serra no estado.
O prestígio do presidente Lula estaria transferindo os votos em nível nacional e, porque acredita que a vitória de Dilma deve ocorrer no primeiro turno, vai tentar levar essa transferência de votos para a disputa pelo governo paulista.
Ao mesmo tempo, pesquisas mostram que em Minas Gerais o quadro pode estar sendo alterado, com o candidato do ex-governador Aécio Neves se aproximando do líder, o senador Hélio Costa, do PMDB apoiado pelo presidente Lula.
Lá ocorre até o momento uma situação inversa, com a candidata Dilma Rousseff vencendo a disputa nacional e o candidato apoiado pelo PT ganhando também a disputa pelo governo estadual.
O ex-governador Aécio Neves trava uma disputa particular com o presidente Lula para definir quem tem mais capacidade de transferir votos, e ao mesmo tempo pretende que uma reversão de expectativas para o governo estadual, favorecendo seu candidato Antonio Anastasia, se reflita também na campanha de José Serra.
A aposta do PT na virada de tendência em São Paulo se baseia na popularidade do presidente Lula, mas ao mesmo tempo, tanto em Minas quanto em São Paulo, são os tucanos que têm maior força eleitoral nas eleições estaduais recentes.
Essas situações estaduais ainda em processo é que alimentam as esperanças dos tucanos de que a disputa presidencial sofra alterações nos próximos dias, ao mesmo tempo em que os petistas temem o clima de “já ganhou”.
Não foi àtoa que o PMDB soltou uma nota oficial desmentindo que já esteja dividindo os cargos de um eventual governo Dilma Rousseff, e que a direção petista se recuse a discutir partilha de governo com os aliados.
Usam para impedir que essa conversa prospere a desculpa de que “dá azar” falar em vitória antes da abertura das urnas.
A coligação oposicionista, por sua vez, começa a alterar sua estratégia eleitoral em busca de uma recuperação.
Decidiu incrementar as campanhas de rua pelos estados, e para isso as militâncias estaduais receberão dinheiro para a confecção de bandeiras, cartazes e adesivos que levem a imagem de Serra aos eleitores de todo o país.
A direção do PSDB considera que o dinheiro do orçamento já está garantido por compromissos de vários doadores.
São Paulo e Minas, estados tradicionalmente “azuis”, são onde os tucanos jogam suas últimas esperanças de levar a eleição presidencial para o segundo turno, enquanto os petistas pretendem pintá-los de vermelho, o que daria um caráter de extermínio da oposição ao projeto de poder lulista.