BRASÍLIA - Quando José Dirceu, Antonio Palocci e tantos outros
petistas ilustres foram alijados da linha sucessória de Lula, vários
nomes surgiram para tentar preencher esse vácuo político.
Dilma Rousseff foi uma das opções. Havia outros petistas no páreo.
Jaques Wagner, Marta Suplicy, Patrus Ananias e Tarso Genro eram alguns
deles. Mas Lula preferiu escolher mesmo sua ex-ministra de Minas e
Energia.
No programa partidário do PT nesta semana, o presidente apareceu
enaltecendo sua candidata. Comparou-a a Nelson Mandela. Num dos
trechos, deu a entender que deve quase tudo a Dilma: "Ela simplesmente
foi exuberante na coordenação do meu governo. Eu digo, sem medo de
errar: grande parte do sucesso do governo está na capacidade de
coordenação da companheira Dilma Rousseff".
Trata-se de uma interpretação elástica da história. Tivesse sido outro
o escolhido para ser o candidato a presidente pelo PT, a frase de Lula
poderia ter sido assim: "Eu digo, sem medo de errar: grande parte do
sucesso do governo está na capacidade de coordenação do companheiro
Patrus Ananias". Surgiriam então imagens dos milhões de beneficiados
pelo Bolsa Família.
Discurso eleitoral é assim mesmo. Não há surpresa no exagero dos
partidos ao venderem seus candidatos, todos perfeitos.
No caso da estratégia do PT, o remédio está sendo usado em doses
cavalares. O lulismo foi inoculado em grau máximo na biografia de
Dilma Rousseff no programa de TV da quinta-feira. Essa nova
interpretação do papel da petista nos últimos sete anos ao lado de
Lula é considerada vital para haver chance de sucesso em outubro.
Há um risco. Remédio em dose muito elevada transforma-se em veneno.
Mata o paciente. Os adversários do PT contam com essa calibragem
exagerada de Lula. Na quinta-feira, na TV, o uso do medicamento
aproximou-se do limite.
sábado, maio 15, 2010
FERNANDO RODRIGUES A dose do remédio
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/05/10