FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - Como não deu certo a patética manobra para fazer de Ciro Gomes o candidato ao governo de São Paulo apoiado pelo PT, Lula apontou o dedo para Aloizio Mercadante. Nunca o partido serviu de modo tão escancarado aos caprichos de seu líder autocrático. A chapa está definida: Mercadante para o governo, Marta para o Senado.
Obedientes a Lula, os demais petistas que sonhavam com o Bandeirantes já se curvaram. Todos, menos ele: Eduardo Suplicy. O senador, com mandato até 2014, insiste em manter seu nome na disputa. O lulismo transformou a "democracia partidária" em conversa fiada, mas Suplicy finge acreditar que ela tem validade: recolhe assinaturas, invoca o estatuto, participa de plenárias.
Será, como tem sido, derrotado pela máquina do partido. Mas seu quixotismo não deixa de ser didático para todos. As restrições da cúpula petista a Suplicy têm muitas vezes a mesma origem de seu prestígio para além do PT.
Em 2005, ele assinou o requerimento da CPI dos Correios, contrariando a decisão do partido de boicotá-la. Delúbio Soares, em represália, o retirou da chapa que concorria ao Diretório Nacional.
No ano passado, Suplicy apresentou o cartão vermelho a José Sarney na tribuna do Senado. Duas horas depois, encontrou o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, que lhe virou a cara, negando-se a cumprimentá-lo. Mais recentemente, Suplicy disse ao chanceler Celso Amorim que Lula deveria rever sua posição e atuar publicamente pela liberdade de expressão em Cuba.
São episódios emblemáticos, que jogam luz sobre o lado sombrio do PT. Entre os princípios e as conveniências, entre a democracia e a corrupção dos amigos, o partido de Lula fez suas opções.
Com sua fala vagarosa e exasperante, com seu ar naïf, para muitos de falso tolo, Suplicy se tornou uma figura meio folclórica. Há no PT até quem o compare ao personagem Forrest Gump.
Soa quase como um elogio num partido com tantos aspirantes à família Corleone.