O Globo - 26/03/2010
Obama acorda invocado, pega o telefone e diz para Hillary que está na hora de resolver a situação de Cuba. A política do isolamento caducou, a opinião pública é favorável ao reatamento, a indústria americana está precisando ganhar dinheiro, os anticastristas xiitas de Miami estão velhos ou morreram.
Não é difícil convencer parlamentares republicanos e democratas a votar o fim do embargo, ninguém aguenta mais esse assunto chato. E o Congresso libera geral, viagens, remessas, empresas, comércio, comunicações, como qualquer país.
Nos dias seguintes, Havana será invadida. Não pelos marines, mas por voos charter e navios abarrotados de turistas americanos, ávidos pelo sol e o mar do Caribe, pelas promessas de calor humano, música e sensualidade, e pela oportunidade de visitar uma Disneylandia socialista e comprar souvenirs do Che e de Fidel. Os hotéis não vão dar vazão para tanta gente, as grandes cadeias hoteleiras americanas, assim como já fazem as europeias, se associarão ao Estado cubano, construirão hotéis e terão altos lucros e impostos baixos, garantia de remessas dos lucros, e todas as liberdades que os cubanos não têm.
O turismo médico levará milhares de gringos a Cuba, os preços locais serão uma merreca diante dos cobrados nos Estados Unidos. Os cubanos de Miami, como cidadãos americanos, vão ser os maiores investidores, e empregarão seus parentes da ilha em seus negócios.
Com as ondas turísticas, entrarão torrentes de dólares, e uma boa parte será desviada para o câmbio negro, abastecendo o mercado paralelo de bens e serviços. Com celulares, parabólicas e internet ao alcance da população, os cubanos poderão escolher em quais noticias acreditar, ficarão loucos pelas novidades tecnológicas em dez vezes no cartão, e, assim como o pessoal do Fórum Social Mundial, acreditarão que um outro mundo é possível.
Se isso acontecer, é provável que o regime não dure muito. Mas, claro, só depois da morte de Fidel, que poderá morrer de desgosto se algum dia o Império levantar o embargo inútil e lhe tirar o seu grande álibi para a tirania, a intolerância e a incompetência.