Folha de S.Paulo - 24/03/2010
No dia 1º de abril, o vice Alberto Goldman (PSDB-SP) acordará governador de SP no lugar de José Serra (PSDB-SP), que deixará o cargo para disputar a Presidência. Dono de personalidade forte, poderá ele se transformar num sucessor autônomo e crítico como Claudio Lembo, vice que assumiu o governo no lugar de Geraldo Alckmin, em 2006?
Lembo, que na época enfrentou a crise do PCC, criticou duramente os tucanos e chegou a dizer que o governo que herdou era como "um Fusca 68, com o motor meio fundido". Goldman defende Lembo, diz que será diferente dele -mas já deixa transparecer que seu candidato preferido para disputar o governo de SP pelo PSDB não é Geraldo Alckmin (o partido também discutiu internamente a possibilidade de Aloysio Nunes Ferreira concorrer ao cargo). O futuro governador falou à coluna:
FOLHA - Serra estaria desenhando a administração do Estado com o senhor para blindar o governo por temer o "efeito Lembo".
ALBERTO GOLDMAN - É uma criatividade, né [dos jornalistas]? Vocês são muito criativos. Os secretários que vão sair agora [do governo] não estão fazendo isso por decisão dele [Serra], mas sim por decisão pessoal. Vão sair porque são pretensos candidatos [nas eleições deste ano]. E quem vai ficar são as pessoas que vieram desde o começo do governo. Nós estamos, por enquanto, discutindo a questão federal [como a candidatura de Serra à Presidência]. Fora isso, tem poucas coisas decididas em nível estadual.
FOLHA - Mas o seu candidato ao governo de SP é o Alckmin, né?
GOLDMAN - O meu candidato? Eu vou te dar uma resposta padrão: o meu candidato é o candidato do partido. Gostou da resposta padrão? A resposta padrão é essa: o meu candidato será o candidato do partido.
FOLHA - E dentro do partido, quem é o seu candidato?
GOLDMAN - Mas esse é um problema meu dentro do partido. Você nem membro do partido é... Se você fizer uma avaliação do que ocorreu até agora em SP, ninguém se declarou candidato [ao governo do Estado e ao Senado] ainda. E quando é que vão se declarar? A partir do dia 2. O único que eu ouvi dizer "sou candidato ao Senado" foi o [deputado] José Aníbal (PSDB-SP). Aliás, não é nenhuma novidade porque ele é candidato aos cargos majoritários nos últimos 50 anos. Então, já se sabia. Mas, no geral, não tem ninguém que tenha dito "sou candidato, vou me apresentar ao partido para disputar". A partir do dia 2, isso vai ter que ser feito. E nós vamos começar a discutir essas questões.
FOLHA - E o efeito Lembo?
GOLDMAN - O Lembo pegou um quadro gravíssimo, o negócio do PCC. Ele não teve culpa de nada. Ele não fez nenhum movimento contrário à candidatura do PSDB e do Alckmin [que disputava a Presidência].
FOLHA - Ele fez declarações...
GOLDMAN - Ele falou aquela história, "achei que ia pegar uma Ferrari e peguei um fusca velho" [na verdade, Lembo declarou que imaginara encontrar um governo que funcionasse como uma Maserati, mas herdou um Fusca 68]. O Geraldo [Alckmin] o excluiu do governo, o fato concreto é esse. No meu caso, é o inverso. Eu construí essa Ferrari. Eu participo desde o primeiro dia das decisões de governo, das escolhas de secretários. Estou a par de todos os problemas. Conheço todos os programas.
FOLHA - Não tem medo de encontrar um Fusca?
GOLDMAN - Não, não. Vou pegar uma Ferrari e transformar numa Maserati, ou vice-versa.