EDITORIAL- O Estadao de S.Paulo
23 de março de 2010
O resultado das contas externas dos dois primeiros meses do ano revela o fato totalmente novo de que o montante dos Investimentos Brasileiros Diretos (IBDs) no exterior supera o valor dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) no País, e estes não chegam a cobrir o déficit das transações correntes no período. Esse acontecimento é um sinal da internacionalização de nossa economia e poderá, no longo prazo, amenizar os efeitos de um crescimento do déficit em transações correntes (estimado pelo Banco Central em US$ 49 bilhões para 2010), graças ao retorno que se pode esperar dos investimentos brasileiros no exterior.
De fato, os IBDs, nos dois primeiros meses, somaram US$ 5,428 bilhões, ante uma redução de US$ 10 bilhões no ano passado, quando as empresas brasileiras tiveram de repatriar os empréstimos feitos a suas filiais. Ao contrário, os IEDs para o mesmo período mostram um saldo líquido de US$ 3,639 bilhões e os investimentos em carteira ? muito mais voláteis ?, saldo de US$ 5,358 bilhões ? com os IEDs cobrindo pouco mais da metade do déficit em transações correntes, de US$ 7,092 bilhões.
A tese segundo a qual um déficit em transações correntes é favorável à economia é aceitável somente na medida em que o País esteja adotando providências para aumentar sua poupança interna e melhorar sua balança comercial, a fim de comprovar aos financiadores do exterior que o risco que correm é limitado. Caso contrário, apesar de reservas internacionais elevadas, os credores começarão a duvidar da capacidade do País de honrar seus compromissos externos.
Estamos ainda conseguindo captar recursos no exterior, como comprova o saldo do balanço de pagamentos, que ficou nesses dois primeiros meses em US$ 2,897 bilhões, acusando queda de US$ 1,914 bilhão em relação ao mês anterior.
Num ano de campanha eleitoral o capital estrangeiro se mostra mais cauteloso em face da incerteza sobre qual será a política econômica do futuro governo. Neste ano a preocupação será maior diante do que se pensa de Lula, nos últimos meses, no plano internacional, apoiando uma candidatura que parece exibir uma visão menos pragmática da que ele sentiu necessidade de firmar ao assinar a Carta ao Povo Brasileiro, na qual se comprometia a seguir uma política econômica na linha do seu predecessor. Esse compromisso foi mantido até o ano passado, mas os velhos refrões de um petismo fora de moda estão reaparecendo, como o estatismo e o nacionalismo.