O Estado de S.Paulo - 30/03/2010
O resultado da pesquisa Datafolha divulgada no último sábado mostrando José Serra 9 pontos à frente de Dilma Rousseff foi uma surpresa geral. A oposição andava jururu, ainda traumatizada com a pesquisa anterior que havia registrado um quase empate entre os dois, achando que ela poderia ultrapassar Serra na próxima.
Os governistas cantavam vitória como se não houvesse amanhã, na base do "está eleita", já conseguindo contaminar vários setores da sociedade com essa certeza. A coisa chegara a um ponto em que a dúvida era se Dilma ganharia no primeiro ou no segundo turno.
Pura técnica de agitação política e ingenuidade de quem acredita. Pois a pesquisa favorável a Serra tampouco indica que os celebrantes por antecipação devam cancelar os festejos. Apenas aconselha o óbvio: que sejam prudentes, pois eleição não prescinde de campanha. Se não se ganha de véspera, quem dirá antes de começar a campanha eleitoral.
A decantada certeza da vitória por enquanto não teve nem tem base na realidade. Aos fatos: o oponente está na frente. Isso sem se declarar candidato. Uma vez declarando-se, qual o motivo de o eleitor desistir da opção feita anteriormente? Portanto, o mais lógico é que subisse e não caísse nas pesquisas.
Por ora, a pesquisa Datafolha mostra que onde a oposição está pior, no Nordeste, a diferença é de 10 pontos, 35% Dilma e 25% Serra. Mas onde o governo está pior, no Sul, a diferença é de 28 pontos, 48% Serra e 20% Dilma.
A oposição está na frente no Norte, Centro Oeste e Sudeste, aqui com 14 pontos de frente onde estão os três maiores colégios eleitorais, São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.
Além disso, entre os eleitores que aprovam o governo, 33% votam em Dilma e 32% em Serra.
Isso significa que há vantagem oposicionista real. Só que há tempo, instrumentos e militância de sobra para alterar a situação se assim o eleitor decidir que deve ser.
Combination. Pode ter sido mera coincidência, mas à medida que ficava mais evidente a candidatura de José Serra à Presidência da República, menos se falava no PT e no Palácio do Planalto da candidatura Ciro Gomes ao governo de São Paulo.
Ao ponto de o consenso em torno do nome de Aloizio Mercadante ter se estabelecido sem necessidade de uma única conversa entre o presidente Lula e Ciro para "resolver" a questão como antes vinha sendo constantemente anunciado.
Conclusão: a candidatura de Ciro em São Paulo nunca existiu de verdade.
Defesa civil. Chico Buarque certa vez propôs a criação de um ministério para prevenção de catástrofes políticas óbvias.
Algo como um conselho que impedisse o presidente Lula de mandar cassar o visto do correspondente do New York Times, que fizesse ver aos aloprados do PT a bobagem de carregar dinheiro em malas para comprar dossiês contra adversários, que aconselhassem deputados a não tentar passar pelo sistema de fiscalização eletrônica de aeroportos com dólares na cueca, enfim, que não dessem tanta chance ao azar.
Seria um dos mais ativos ministérios. Agora mesmo teria a tarefa de desmentir José Rainha Júnior. Um dos primeiros líderes do MST a ficar famoso, a ser preso e acusado por formação de quadrilha, porte ilegal de armas, suspeita de assassinato, associação ao tráfico de drogas, condenado por crimes de incêndio, furto e danos e a merecer da direção nacional do movimento uma manifestação oficial de repúdio.
Ainda assim, apresenta-se como líder de uma ala do MST no Pontal do Paranapanema (SP), cujos acampamentos segundo ele, serão transformados em "comitês pró-Dilma".
As ações começam no "abril vermelho" com as ocupações que tanto desagradam à população. Da mesma forma, os movimentos dos sindicatos ligados à CUT em São Paulo, em que um grevista admitiu que a ideia é "quebrar a espinha" do governador e do candidato.
É de se perguntar aos estrategistas da campanha de Dilma se essa ausência de sutileza não cria uma associação de brutalidade e radicalismo a uma imagem que vem sendo trabalhada exatamente no sentido contrário, de suavidade e moderação.