domingo, janeiro 24, 2010

VINICIUS TORRES FREIRE A política menor do plano Obama

FOLHA DE S PAULO


Plano de reforma dura das finanças, tentativa de ganhar apoio popular, pode piorar a crise no governo americano


O ATAQUE político mais importante contra o sistema financeiro derivou da desorganização do governo de Barack Obama, de algumas derrotas eleitorais pontuais e de pesquisas de opinião que registram o aumento do desprestígio do presidente americano e dos democratas. O ataque é, como se sabe, o plano Obama de regular duramente os bancos americanos. Em lugar algum do mundo rico houve um movimento político organizado ou tumulto social em reação à crise detonada pelo colapso da finança mundial. As lentas e tímidas propostas de reforma do sistema financeiro mundial vinham sendo discutidas em fóruns como o Comitê de Basileia ou o Fórum de Estabilidade Financeira -ou seja, entre os pares da finança, tanto no setor privado como nos governos. Não houve iniciativa importante nos Parlamentos da Europa ou dos EUA com o objetivo de alterar profundamente o estado de coisas que levou à crise de 2008, muito menos o de reformar a estrutura das economias. 
Mas o que ocorre nos EUA não parece se tratar de algum movimento, digamos, progressista, ou que lide com problemas de fundo: a longa crise de criação de empregos, o aumento da desigualdade de renda ou a falta de um grande impulsionador do investimento e de renovação de uma economia que vem vivendo de bolhas faz pelo menos 15 anos. A gestão econômica de Obama é agora desaprovada por 51% dos americanos (pesquisa NBC/"Wall Street Journal" de dezembro). O grau de insegurança no emprego é o maior desde 1996, embora pesquisa do Centro de Pesquisa Pew, de dezembro, mostre um aumento da esperança na melhora da economia. 
A proporção de americanos que desejam que o próximo Congresso seja de maioria democrata é agora a mesma dos que desejam uma maioria republicana, segundo a pesquisa NBC/"WSJ" (41% pró-republicanos, 43% pró-democratas). Em junho de 2008, 52% desejavam uma maioria democrata na eleição de novembro que vem, a maior inclinação pró-democrata desde 1997. Os democratas têm perdido eleições pontuais desde que Obama tomou posse. Cresce o prestígio de movimentos conservadores populares e independentes, como o "Tea Party". A lei de reforma da saúde de Obama está para ser bem desfigurada, se sobreviver. Os principais economistas de Obama perdiam apoio no Congresso; agora parecem escanteados na Casa Branca -trata-se de Larry Summers, principal assessor econômico, e Timothy Geithner, secretário do Tesouro, próximos da finança. Numa reviravolta aparentemente desesperada, Obama passou a ouvir Paul Volcker, ex-presidente do Fed, que aconselhou seu plano de ataque à banca. É intensa a boataria nos EUA sobre a queda de Geithner, que mal se moveu para apoiar o plano Obama contra os bancos. Aumenta a oposição à recondução de Ben Bernanke à presidência do Fed; de resto, o Congresso quer amputar o Fed de seus poderes de supervisão. 
O governo Obama está em crise. O ataque à banca vem daí -e é desorganizado, parece ser de difícil execução técnica e não mexe em problemas estruturais dos EUA. Por ora, é um episódio menor da política partidária americana. Não parece nem de longe um soluço de reformismo.