sexta-feira, dezembro 18, 2009

Urubu ou faisão? NELSON MOTTA

O Globo

O Brasil precisa decidir: se é mesmo uma potência emergente, o fenômeno econômico do momento, o último a entrar e o primeiro a sair da crise, se tem todo esse pré-sal para explorar, se quer falar de igual para igual com os gringos de olhos azuis, na hora de contribuir para o Fundo Ambiental tem que estar disposto a fazer um aporte de acordo com sua riqueza e poder — e não continuar no bloco das vítimas e oprimidos.

Temos que escolher: ou somos os novos salvadores da humanidade com nosso etanol, nossa superprodução de energia limpa e renovável, sustentável e admirável, ou somos os árabes do futuro com nossas reservas de petróleo no pré-sal — e a certeza de sua poluição massiva. As duas opções ao mesmo tempo não dá, mesmo que Lula se diga uma metamorfose ambulante, gringo não entende o humor de Raul Seixas.

Não dá para, conforme a situação, o Brasil querer ser do G-12 ou do G77, agir como potência ou como vítima.

Lula pode ser o cara, mas na hora dos acordos que vão custar caro a seus contribuintes, os japoneses, americanos e europeus mostram por que eles são eles e nós somos nós.

A obsessão de colocar nádegas brasileiras na cadeira de membro (epa! nádegas de membro?, deve ser influência do estilo Lula de oratória) do Conselho de Segurança da ONU, além do aparente prestígio e ilusório poder — o que pode o Brasil contra um veto americano, chinês ou russo? — implica em um comportamento de potência, de rico, sempre chamado a dar dinheiro às nações carentes, e eventualmente até a enviar tropas para zonas de conflito.

Sai caríssimo para os contribuintes.

Se não conseguimos resolver sequer a falta de esgoto, de água, de escolas e de hospitais para milhões de brasileiros, a corrupção endêmica e impune de nossos políticos, a criminalidade urbana galopante, o que temos a oferecer aos pobres do mundo? Um Bolsa Família pago pelos contribuintes dos países ricos? Ricos como nós ou como eles? Mas não foram eles que se ferraram com a crise? Não fomos nós que nos demos bem? Fica parecendo que o Brasil, em linguagem lulista, come urubu e arrota faisão. Ou vice versa.