FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - O gesto de Aécio Neves transfere uma imensa responsabilidade para cima de José Serra. Pelo seu calendário particular, o governador de São Paulo gostaria de esperar até março, para então abrir a janela e observar se há perspectiva de sol para os tucanos em 2010. Com o tempo muito fechado e tempestades à vista, Serra -com algum custo, é óbvio- poderia ainda virar as costas para a Presidência e cuidar de seu jardim paulista, onde teria, em tese, uma reeleição mais ou menos tranquila.
A janela que convoca Serra para a guerra -faça chuva ou faça sol- foi aberta ontem pelo governador de Minas. Isso não quer dizer que Serra "já é" candidato, mas que o preço político a pagar por uma eventual desistência agora ficou muito alto.
Aécio vinha se sentindo desconfortável com a indefinição do quadro sucessório no PSDB. Temia passar pelo que Geraldo Alckmin viveu em 2006. A perspectiva de ficar refém das dúvidas hamletianas de Serra, o risco de sua "alckmização", foi o que o mineiro quis afastar de si, abrindo mão da disputa.
"Seguro as rédeas de meu destino", diz Aécio, preocupado em desfazer tanto a impressão de que será um reserva sempre disponível e disposto a entrar em campo, sob quaisquer condições, como a ideia de que há um acordo oculto pelo qual ele será candidato a vice.
Aécio acredita que sua saída do jogo agora obrigará Serra a movimentar-se com mais objetividade, levando-o a "tomar algumas atitudes" como candidato. O mineiro avalia, por exemplo, que uma candidatura de oposição em torno da aliança PSDB-DEM-PPS é muito frágil diante do arrastão partidário e da força da máquina que o governo mobilizará por Dilma Rousseff.
Por ora, Aécio não considera a hipótese de ser vice de Serra. Prefere a eleição certa ao Senado, que lhe permitiria ficar em Minas e trabalhar por Antonio Anastasia, seu atual vice, na disputa pelo governo.
Mas política, diz o chavão, é como nuvem. Ao abrir a janela de Serra, Aécio não fechou, ainda, nenhuma porta para si mesmo.