O Globo
A reunião de Copenhague discute o futuro da humanidade diante das mudanças do clima. Bilhões de dólares — quem sabe trilhões — estarão em jogo, tanto em termos de investimentos em tecnologias mais limpas (caras e ineficientes), como da eliminação dos combustíveis fósseis (mais baratos e eficientes). Diante de valores tão expressivos, o mínimo que se poderia esperar é que as pesquisas sobre o aquecimento global — e principalmente em que medida ele é natural ou provocado pela ação humana — fossem confiáveis e produzidas dentro de rigores científicos metodologicamente consagrados.
Infelizmente, no entanto, há fundadas suspeitas de que podemos estar diante de uma fraude. Eu sei que isso parece conversa de maluco ou, no mínimo, de gente que acredita em teoria da conspiração. Não censuro quem assim pensa, afinal somos bombardeados quase todos os dias com notícias e reportagens repletas de catástrofes naturais atribuídas ao aquecimento global, todas elas ornadas com belas fotografias e filmes de ursos polares solitários, imensos icebergs perdidos no meio do oceano e geleiras milenares derretendo para sempre. Ainda que seja difícil acreditar que um aumento médio comprovado da temperatura terrestre de parcos 0,5º C nos últimos 150 anos possa desencadear tantos desastres, o apelo catastrofista é muito forte, especialmente se não temos acesso às informações por inteiro. Por exemplo: você sabia que as temperaturas médias terrestres não sofreram qualquer aumento desde 1998, embora os níveis de CO2 na atmosfera tenham crescido ininterruptamente nos últimos 11 anos? Em novembro passado estourou um dos maiores escândalos científicos dos últimos tempos, envolvendo ninguém menos que alguns próceres das pesquisas sobre o aquecimento global. Um hacker divulgou na internet um conjunto de e-mails e arquivos trocados entre cientistas da Universidade britânica de East Anglia e vários de seus correspondentes mundo afora. Esta universidade, através de sua Unidade de Pesquisas Climáticas (CRU), é responsável, entre outras coisas, pelo cálculo das temperaturas médias globais utilizadas pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, e seu atual diretor, Dr. Phil Jones, um dos autores do capítulo do relatório do mesmo IPCC que trata da “detecção das mudanças climáticas e suas causas”.
A leitura desses arquivos sugere, como bem resumiu Andrew Bolt, uma grande e embaraçosa teia de conluios, falsificações, destruição (possivelmente ilegal) de dados e informações, resistência organizada à divulgação de ideias contrárias, manipulação de dados estatísticos, admissão privada de erros e muito mais.
Para se ter uma ideia do descalabro, há um e-mail de Kevin Trenberth que, entre confuso e arrogante, tenta entender por que não há qualquer aquecimento desde 1998. Diz o valente: “O fato é que não podemos explicar a falta de aquecimento no momento e é ridículo que nós não possamos.” Então, no lugar de celebrar a boa notícia, o indigitado prefere culpar o termômetro pela ausência de febre e arremata: “Nosso sistema de observação é inadequado.” Seria cômico, não fosse trágico.
As mensagens também mostram, em cores nítidas, como o Dr. Phil Jones discute com os colegas as táticas e estratagemas para evitar liberação de dados para cientistas de fora da sua igrejinha. Ficamos conhecendo cada uma das desculpas e artimanhas utilizadas para ocultar as medições primárias sobre as quais seus registros de temperatura foram baseados e elaborados. Além disso, a turma é instada, por mais de uma ocasião, a apagar arquivos de dados armazenados em seus computadores.
É profundamente lamentável verificar o descaramento com que se manipulam dados, sempre visando a reduzir os registros de temperaturas passadas e “ajustar” as mais recentes para cima, a fim de dar impressão de um aquecimento acelerado. Mas a coisa não para aí. Não bastasse a desonestidade intelectual e desprezo total pelo método científico, há ainda uma implacável determinação para silenciar todo e qualquer especialista que ouse questionar suas “descobertas”.
A estratégia consiste não apenas da recusa sistemática de disponibilizar seus dados básicos à comunidade científica, mas também — e acima de tudo — de tentativas concertadas de desacreditar qualquer jornal ou revista científica que se atreva a publicar os trabalhos e estudos dos chamados céticos. Eis, afinal, como o tal “consenso” foi fabricado.
Ademais, é preocupante que decisões tão importantes para o futuro da humanidade, como as de Copenhague, venham a ser tomadas a partir de informações no mínimo imprecisas e viciadas por interesses muito além da ciência, no lugar de pesquisas isentas, debates abertos e transparentes.
JOÃO LUIZ MAUAD é administrador de empresas.