Final de ano, em geral tão fraco em notícias econômicas, ontem apresentou duas informações que pedem análise. A primeira é o IGP-M fortemente negativo. E a segunda, a rápida expansão do crédito.
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) poderia não passar de um medidor de inflação como tantos outros, com a peculiaridade de ter em sua composição um peso mais alto (60%) de preços no atacado. No entanto, é bem mais do que isso, na medida em que é usado como indexador, ou seja, como critério de reajuste de um grande número de contratos: aluguéis, tarifas, prestações imobiliárias, honorários de advogado e valores financeiros.
Desde meados do ano se esperava que a evolução do IGP-M seria negativa em 2009 porque a crise global e o tombo do dólar derrubaram os preços no mercado atacadista. O que se viu ontem foi um número fortemente negativo, de -1,72%, o mais baixo da série histórica do índice. Isso significa que os preços amarrados ao IGP-M têm de cair. Um aluguel de R$ 1 mil, reajustável em janeiro, por exemplo, terá de cair para R$ 982,80. Bom para o inquilino, não tão bom para o proprietário.
As imobiliárias não gostam dessa derrubada porque têm de admitir que os imóveis desvalorizaram. Por isso, quando se deparam com um reajuste desse tipo, tendem a escamotear a realidade e a manter os valores do ano anterior. O que se pode dizer é que, a longo prazo, os índices que medem a inflação, seja qual for sua composição, tendem a confluir para o mesmo número. O que é negativo hoje tende a ser compensado com uma esticada mais à frente.
A outra informação é a disparada do crédito, de 15% em 12 meses até novembro. Em 2002, o saldo das operações correspondia a 22% do PIB. Agora, está a 45%. Isso quer dizer que sua expansão contribuiu para o aumento do consumo, que se imagina tenha sido entre 4% e 5% em 2009.
Alguns economistas veem na esticada do crédito o risco de alimentar a inflação a partir do momento em que o consumo correr à frente da produção. Esse risco existe, mas vai demorar para produzir impacto sobre os preços porque ainda há capacidade ociosa na indústria, não só porque mercadoria encalhada apenas agora vai sendo desovada, mas também porque as exportações de manufaturados caíram 29% neste ano até novembro.
O volume de crédito no Brasil ainda é baixo, especialmente quando se compara com o dos países ricos (em geral acima de 100% do PIB). Mas a velocidade da expansão (a quase 15% ao ano) é insustentável a longo prazo, por duas razões. Primeira, porque a produção não segue o mesmo ritmo. E, segunda, porque o governo está gastando demais, tem de emitir mais títulos de dívida para financiar a gastança e, assim, à medida que mais recursos vão para a cobertura das despesas públicas, menos sobram para o crédito ao setor privado.
Confira
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