JORNAL DO COMMERCIO (PE)
BRASÍLIA - O silêncio inicial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sobre o apagão, que falou do tema apenas quase dois dias depois, foi avaliado pelo presidenciável do PSDB e governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG) como um “sinal de fragilidade” da candidatura da petista à Presidência da República. “Não creio que do ponto de vista técnico o apagão tenha efeitos na campanha. Agora, a operação para blindar a ministra Dilma, isso passa a ideia de fragilidade em sua candidatura”, disse pela manhã, ao deixar Brasília, onde esteve para participar de reuniões com seu partido.
Para Aécio, Dilma, como chefe da Casa Civil e ex-ministra de Minas e Energia, tinha de falar sobre o acidente. “Estão querendo desvinculá-la do tema.” À tarde, porém, depois de reunião com o presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff concedeu entrevista na qual tratou do apagão. Ela procurou diferenciar o blecaute ocorrido nesta semana do racionamento de energia no governo FHC, classificado por ela de “barbeiragem”.
Já o também presidenciável tucano e governador de São Paulo, José Serra, comentou a versão para o apagão dada pelo governo. “Não podemos ter um sistema elétrico que entre em colapso por causa de raios e ventanias. O sistema tem que ser à prova de pequenos transtornos da natureza. Isso mostra que o sistema elétrico brasileiro é frágil.”
Aécio também falou ontem sobre a sucessão presidencial. Ele afirmou que o PSDB começa a perceber que sua eventual candidatura poderá evitar uma “polarização” ou “tentativa de eleição plebiscitária” em 2010, conforme estratégia atribuída ao presidente Lula. Aécio voltou a argumentar que se considera capaz de agregar outras forças políticas, inclusive de partidos que estão atualmente na base aliada ao governo. A declaração de Aécio vem dois dias depois de o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), ter admitido que uma candidatura do mineiro poderia ampliar mais as alianças do PSDB do que a de José Serra.
Aécio disse, também, que o encontro com o presidenciável do PSB, Ciro Gomes (CE), previsto para a terça-feira, em Belo Horizonte, não tem por objetivo enfraquecer a pré-candidatura de Serra. “Esse não é o objetivo. Vejo que algumas análises podem até ir nessa direção, mas isso (sua relação com o deputado do PSB) não é um fato construído artificialmente”, observou.
Aécio e Ciro ensaiaram uma aliança na campanha para prefeito da capital mineira, Márcio Lacerda (PSB), em 2008. Em julho, no último encontro entre os dois em Belo Horizonte, o deputado causou desconforto no PSDB ao criticar duramente Serra, tendo o governador mineiro ao lado.