sábado, novembro 14, 2009

Os bonitões aderem ao cavanhaque

Só para quem pode

Os bonitões aderem ao cavanhaque, desde que
seja ralo e com um ar cuidadosamente desleixado


Suzana Villaverde

Fotos Koji Sasahara/AP, Mario Rodrigues, Zumapress e Getty Images
MUITO, POUCO OU QUASE NADA
Brad Pitt, Paulo Vilhena, Jesus e Orlando Bloom: capilares


Quando os galãs cansam de ser bonitinhos, o que eles fazem? Cultivam um cavanhaque assim meio desleixado, com jeito de quem não liga para a aparência, estratagema que tem sido muito usado nos últimos tempos por famosos e, por força de sua influência, por não famosos também. "Tenho cara de moleque. Quando fico sem barba nenhuma, parece que acabei de fazer 20 anos", diz o ator Paulo Vilhena, dez mais do que isso, embora ninguém diga. Vilhena, que alterna barba malfeita com costeleta, cavanhaque e mosquinha, nome dado ao pontinho de pelos entre o lábio inferior e o queixo que só faz sentido para quem usa, explica assim a volubilidade: "É mais ou menos como as mulheres e seu cabelo. Um dia eu começo a achar que aquele rosto não combina mais comigo, e mudar o tipo de barba é o jeito mais fácil de ficar diferente". Especialistas consideram o método eficiente. "Deixar uma sujeirinha já tira o ar pueril", atesta o maquiador e consultor de estilo Fernando Torquatto, ele próprio adepto dos pelos faciais para "desarrumar" o visual.

Ao contrário do estilo cultivado por cantores de ópera e agentes das forças de segurança em geral, o cavanhaque estiloso jamais deve ser aparado por profissionais. A ideia é manter o jeitão meio selvagem que vale uma promoção imediata da categoria "menino" para "homem" – basta ver Jesus Luz, o da Madonna. Na ordem dos cavanhaques, a gradação vai dos menos ralos aos mais ralos, mas todos são ralos, em especial os dos homens com pele de bebê, como o ator inglês Orlando Bloom. Tanto em inglês (goatee) quanto em francês (bouc), as palavras usadas para designar cavanhaque evocam justamente o protótipo animal da barbicha rala, o bode. No Brasil, o inspirador do termo foi o general e primeiro-ministro francês Louis-Eugène Cavaignac, um sujeito feio de doer e ainda por cima com uma barbona. O rosto escanhoado é uma exceção na história da capilaridade facial masculina que atingiu o auge na metade do século XX. "A barba estava associada à marginalidade. Quando o cavanhaque voltou, com as bandas de rock, representava rebeldia. Hoje os homens o usam muito mais como um toque divertido e moderno", disse a VEJA o psiquiatra canadense Allan Peterkin, autor do livro One Thousand Beards – A Cultural History of Facial Hair (Mil Barbas – História Cultural dos Pelos Faciais). Nem todos podem usá-lo, porém. "Não fica bem em quem tem o rosto muito redondo", afirma o maquiador Torquatto. "E quando a pessoa passa dos 40, se não for o Brad Pitt, fica com cara de bode." Pensando bem, diante do esdrúxulo cavanhaque com tererês que o ator tem exibido, a triste conclusão é: nem sendo Brad Pitt.