sábado, novembro 21, 2009

Rainha e Maroni: o sem-terra e o sem-boate

O sem-terra e o sem-boate

O líder do bando de sem-terra e um empresário acusado de lenocínio fazem planos políticos e discutem o futuro do Brasil. Não deixa de ser coerente


Leonardo Coutinho

Arquivo Pessoal
Programa legal
José Rainha e Oscar Maroni em tertúlias sobre política e algo mais...

Observe a foto acima. À esquerda está José Rainha, um dos chefões do MST, já condenado por furto e porte ilegal de armas. À direita, Oscar Maroni Filho, dono da boate paulistana Bahamas, que era a mais, digamos, reputada casa de prostituição do país até 2007, quando as autoridades a fecharam. Maroni exibe, agora, um corte de cabelo esquisitíssimo: raspa apenas o lado direito do cabelo e da barba. Ele adotou esse visual mezzo a mezzo por causa de uma promessa. "Quan-do o Bahamas reabrir, eu raspo o resto", explica o proxeneta. E acrescenta: "Uma das metades de barba é o meu lado Lula, a outra é Fernando Henrique Cardoso". Sim, Maroni tem interesse em mais de um aspecto da vida pública, como demonstra, aliás, a fotografia com Rainha. Desde setembro, quando a imagem foi captada, ambos discutem os rumos do país (e por que não?) e suas possíveis candidaturas a cargos eletivos. Maroni condena as invasões de terra que Rainha promove há 25 anos e tenta convencer seu novo amigo a abraçar "a paz no campo". Também incentiva o sem-terra a se candidatar a deputado estadual, enquanto ele mesmo cogita disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Seu único porém é não integrar o partido de seu coração.

Maroni é um entusiasta do PT. "Só existem três coisas na vida que eu não consigo deixar: o PT, a Igreja Católica e o Corinthians." Mas anda meio decepcionado com os companheiros. Um dos motivos é que acha que os radicais deveriam ser expulsos. Outro é porque, em 2008, a agremiação não topou que ele concorresse como vice de Marta Suplicy, candidata derrotada à prefeitura de São Paulo. O empresário da noite migrou, então, para o PTdoB, pelo qual obteve apenas 5 804 votos para vereador. Diante dessa demonstração de impotência eleitoral, quer voltar ao mais farto seio petista.

Rainha, acredita o dono do Bahamas, pode ajudá-lo nesse programa. Os dois se aproximaram depois que um bando de sem-terra invadiu o latifúndio do sem-boate, em Araçatuba, no interior de São Paulo. "Foi igual ao que fizeram com o Fernando Henrique e com o cara das laranjas (Cutrale). A gente dá ibope", lamenta Maroni. Ele, então, pediu ajuda a Rainha. O líder de quadrilha deu-lhe razão, mas disse que não mandava especificamente naqueles bandidos. Há duas semanas, a Justiça deu ganho de causa a Maroni. O MST foi proibido de chegar a menos de 10 quilômetros da fazenda. "A sentença é contra os sem-terra, mas não abalará minha relação com Rainha", diz Maroni. A fotografia acima, convenhamos, é um retrato do Brasil.

Anderson Prado/Ag. O Globo
Da boate para as urnas
O proxeneta em campanha para vereador em 2008: não deu