FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - Quase 60 milhões de pessoas ficaram no escuro. O país era um breu só, mas a mente iluminada de Tarso Genro viu uma maneira de dizer que tudo não passou de "um microincidente dentro de conquistas extraordinárias durante sete anos na produção de energia". A cabeça do vaga-lume da Justiça funciona assim: apaga quando acende e vice-versa.
Devemos contabilizar entre as "conquistas extraordinárias" o fato de termos à frente do Ministério de Minas e Energia alguém como Edison Lobão? Já escrevi e repito: as afinidades do afilhado de Sarney com o setor elétrico se limitam ao prenome. Ele é homônimo de Thomas, o inventor da lâmpada.
Sem ciência na área, nosso Edison primeiro rogou a Deus para que o episódio não se repita. Ontem, pautado pelos camaradas, disse que este era assunto "superado" no governo. E assim fica. Diante da falta de explicações plausíveis, o Planalto acionou sua rede de transmissão da autossuficiência autoritária.
Na véspera do "microincidente", Dilma Rousseff dizia: "Nosso governo dá de 400 a 0 no anterior". Quanto estaria hoje o placar? Depois de submergir, a ex-ministra de Minas e Energia de Lula ontem também limitou-se a "encerrar o caso". Devemos agora pensar que o povo não precisa mais dos "formadores de opinião" porque aprendeu a ficar no escuro sozinho?
Para livrar a cara de sua candidata, o PT no Senado jogava anteontem a responsabilidade nas costas do PMDB, dono da área. Este, por sua vez, cobrava "satisfação cabal" do governo.
A pantomima política lembra a crise dos anos FHC, quando os tucanos tentavam depositar seu apagão na conta do PFL.
Em 2001, no tempo das velas românticas do tucanato, houve um longo racionamento; hoje não falta energia. Mas é sintomático, nos dois casos, que o país esteja entregue à mesma "bancada do apagão". As subestações da fisiologia seguem operando. O que está muito em falta, além da luz eventual, é consideração pela opinião pública.