sábado, novembro 14, 2009

Augusto Nunes Uma lição ao país sem memória

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14 de novembro de 2009

Em muitos anos de silêncio, Dilma Rousseff consolidou a imagem da superministra onisciente e arrogante. Em poucas semanas de verborragia, sobrou a arrogância. “Tudo o que a oposição não quer é que comparemos o governo do presidente Lula com o anterior, porque o anterior perde de 400 a zero”, disse há dias a candidata. Só uma oposição exemplarmente inepta ouve em silêncio esse hino à soberba sem reduzir a autora a suas dimensões liliputianas.

Releiam, por exemplo, o que acaba de dizer a gerente-geral da República sobre o apagão rebatizado de blecaute. “Para o sistema ser 100% seguro, seria muito mais caro e nós teríamos que pagar uma conta de luz bastante mais gorda do que nós pagamos. Porque nenhum país do mundo tem esse nível de redundância”. Em seguida, confrontem a conversa de colegial tatibitate com qualquer trecho do depoimento de Fernando Henrique Cardoso que começou a ser publicado. Foram quase duas horas de conversa sem agressões ao idioma ou à lógica.

Fica claro que o Brasil é que atingirá um altíssimo “nível de redundância” se, depois do monumento à ignorância, eleger a fraude de terninho, diariamente escancarada por algum falatório sem pé nem cabeça. Dilma não sabe o que diz, não diz o que sabe e não sabe dizer coisa com coisa. Pode-se discordar de coisas que Fernando Henrique diz, mas é possível entender tudo o que está dizendo. Também por isso a entrevista foi alojada na seção O País quer Saber.

Milhões de jovens que não conheceram o Brasil devastado pela inflação precisam conhecer o homem que derrotou o inimigo aparentemente invencível. Os brasileiros de todas as idades precisam lembrar que é possível presidir o Brasil sem escorregar em bravatas, bazófias, grosserias. Precisam também reaprender que diploma não é prontuário, que saber não é defeito e, sobretudo, que a formação escolar indigente jamais será virtude.

FHC pratica com naturalidade o convívio dos contrários só permitido a quem enxerga os erros que cometeu, sabe contemplar-se com ironia, não se considera onisciente nem dá conselhos ao mundo e conhece a diferença entre a divergência democrática e o ataque boçal. Ao longo do depoimento, sem renunciar ao tom crítico, contempla Lula com o respeito que, dias depois da entrevista, novamente lhe seria negado pelo sucessor.

Num artigo publicado no Estadão, o ex-presidente amparou-se em sólidos argumentos para apontar os riscos embutidos no “autoritarismo popular” que marca a Era Lula, e pode instituir no Brasil uma espécie de subperonismo. Lula não sabe quem foi Perón, nem o que quer dizer subperonismo. Incapaz de sustentar um debate civilizado com quem pensa, refugiou-se no reducionismo de praxe. É inveja, decidiu.

Revejam o que andam dizendo a mãe do Pac e o maior dos governantes, comparem a discurseira com o depoimento do ex-presidente. Fernando Henrique não tem motivos para invejar os dois. Dilma tem mais de 400. Lula, que vê o mundo em forma de urna, tem pelo menos duas derrotas no primeiro turno.